



QUIMBANDA GOÉCIA
Doxografia Goética - Vol. 1
Quimbanda Goécia: A Religião Ctônica do Ocultismo Brasileiro apresenta a primeira formulação sistemática da Quimbanda como religião filosófica da Terra, articulando uma genealogia que atravessa o mundo grego, o islamismo esotérico, os sistemas iniciáticos africanos e o desenvolvimento histórico do Ocultismo no Brasil. A partir do conceito de doxografia goética, o livro propõe um método comparativo e operativo que reúne fontes clássicas, medievais e afro-diaspóricas para explicar a Quimbanda não como sincretismo popular, mas como herdeira viva da goÄ“teia — a arte antiga de comunicação com os mortos.
Organizado em três grandes partes, o livro inicia com uma análise aprofundada da goÄ“teia mediterrânea, contemplando o culto doméstico aos ancestrais, a necromancia grega, o ciclo salomônico dos grimórios e a formação da demonologia medieval. Nessa seção, o livro reconstrói a longa história da descida (katábasis) como forma de conhecimento, mostrando como o goÄ“s — sacerdote que canta e convoca os mortos — antecede o mago cerimonial e espelha, em outro continente, a função do nganga banto. A goécia aparece, assim, como um sistema filosófico e ritual centrado na Terra, cujo fio subterrâneo permanece vivo nas Américas.
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A segunda parte investiga o Ocultismo Brasileiro como identidade religiosa crioula. Analisando o Espiritismo kardecista, o esoterismo francês (Lévi, Papus, Péladan) e as macumbas cariocas, o livro demonstra que a Quimbanda resultou da convergência entre mediunidade urbana, demonologia europeia e feitiçaria afro-indígena. Nesse processo, Exu assume a função de espírito tutelar ctônico, e Pombagira emerge como princípio de linguagem, desejo e mediação — inaugurando a forma brasileira da goécia.
A terceira parte apresenta a Quimbanda Ocultura, reflexão contemporânea sobre corpo, imagem, texto e mídia como modos modernos de presença ritual. Aqui entram em cena os Estudos Esotéricos Africanos (Finley, Guillory, Page), a filosofia afro-diamésica (diámesis + àṣẹ) e a estética do Submundo, articulando a Quimbanda como sistema completo de conhecimento: uma filosofia prática, uma arte do símbolo e uma metafísica da Terra.
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Unindo história, antropologia, filosofia e operações rituais, Quimbanda Goécia afirma o Brasil como centro da Nova Síntese da Magia, onde a antiga religião dos mortos renasce com corpo, sangue e palavra. Uma obra fundamental para compreender a Quimbanda como religião ctônica do Ocultismo brasileiro e como uma das tradições esotéricas mais sofisticadas do mundo contemporâneo.​​​​


QUIMBANDA GOÉCIA - DOXOGRAFIA GOÉTICA VOL. 1

QUIMBANDA GOÉCIA - DOXOGRAFIA GOÉTICA VOL. 1
A oposição entre goécia e teurgia, estabelecida na Antiguidade tardia e reiterada pela tradição cristã e renascentista, resulta de um processo histórico de repressão aristocrática e filosófica que buscou deslegitimar as práticas mágico-populares vinculadas à goÄ“teia grega — arte dos encantamentos, necromancia e comunicação com as potências ctônicas. Enquanto a teurgia (de theourgia, i.e. obra dos deuses) foi absorvida pelas elites platônicas como prática elevada de ascensão espiritual, a goécia (de goÄ“s, i.e. feiticeiro, convocador dos mortos) foi estigmatizada como superstição e feitiçaria ilícita. Essa distinção reflete menos uma diferença teológica essencial e mais uma estratégia de hierarquização simbólica: a tentativa de uma classe letrada em monopolizar o contato com o divino, relegando as formas populares de magia à marginalidade ou ao demoníaco.
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A antiga goÄ“teia era originalmente uma forma de teurgia popular, voltada à comunhão com os espíritos da terra, dos mortos e das forças intermediárias do Cosmos. Ao contrário da leitura pejorativa imposta pela escolástica e pela teologia patrística, as práticas da goécia constituíam o lado operativo e telúrico da mesma cosmologia que a teurgia platônica sublimava. As culturas africanas e afro-brasileiras conservaram essa unidade originária: nelas, o culto aos ancestrais, o trato com os espíritos e a manipulação das forças naturais não se opõem à oração, ao sacrifício ou à contemplação — são dimensões complementares de uma mesma ciência sagrada da presença. A Quimbanda, herdeira direta da goécia antiga e das teurgias africanas, representa precisamente essa síntese: o retorno do pensamento mágico à sua integridade original, onde invocar e ascender, evocar e iluminar, são movimentos inseparáveis da mesma obra divina.


QUIMBANDA GOÉCIA - DOXOGRAFIA GOÉTICA VOL. 1
Este livro, Quimbanda Goécia, têm por foco definir a tradição afro-brasileira da Quimbanda como uma forma altamente sofisticada de Ocultismo brasileiro. Os capítulos estabelecem, com rigor intelectual, a genealogia ritual e conceitual da Quimbanda, argumentando que ela representa uma nova síntese da magia, enraizada tanto nas cosmologias afro-diaspóricas (como o conceito banto-congolês de moyo ou o àṣẹ dos yorùbá) quanto no esoterismo ocidental.
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No centro dessa síntese está o conceito de goÄ“teia — a ciência da terra e dos mortos —, bem como a influência da tradição salomônica mediada por práticas arábico-islâmicas (como as bolsas de mandinga) e pelas categorias filosóficas de Avicena, que fornecem base teórica para as práticas operativas da Quimbanda, como a confecção de padês (talismãs rituais).
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O livro explora frequentemente o conceito de afro-diamésica para descrever a ontologia relacional da Quimbanda, na qual deidades como Exu funcionam como mediadores ctônicos entre o mundo visível e o invisível, situando essa tradição no interior da história mais ampla da arte ritual como ação operativa.