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REVISTA NGANGA

A Revista da Feitiçaria Brasileira

Revista Nganga nasce para expor ao público leigo e especializado a feitiçaria tradicional brasileira. Assim, é com muito prazer que apresentamos aos kimbandas brasileiros e ocultistas interessados nos assuntos que envolvem a  Quimbanda como goécia brasileira e estilo de vida daemônico, i.e. uma vida de goécia, e tudo que envolve a cabalá crioula ou makumba a Revista Nganga.

 

O termo nganga é um vocábulo congo que designa uma antiga posição sacerdotal nos cultos bantos; trata-se de um médico ritual e manipulador de forças vitais, um xamã ou pajé curandeiro africano equivalente ao vocábulo kimbundo kimbanda. No quicongo o nganga é um sábio, um mestre, um sacerdote que se comunica com os ancestrais divinizados, intermediários entre ele (o indivíduo) e as forças divinas. Na África banto de modo geral o nganga é um médico ritual, curador e livrador de mazelas da alma, um sábio detentor de conhecimento de mistérios ocultos, magia e comunicação com os mortos, porque o vocábulo é associado também à ideia de poder mágico. Como vimos no texto Uma Vida de Goécia, muito embora a Quimbanda derive seu nome deste indivíduo, o kimbanda africano, no Brasil ela se tornou um sistema de magia demonológico, nigromântico.

Mas é para homenagear este feiticeiro curador ancestral que demos a revista o nome de nganga, porque é este indivíduo, seu papel de agente social, que inspira o sacerdócio de nossa família de Quimbanda Nàgô como a imagem de um goêtes tradicional. A revista conta com ensaios dos ngangas de nossa família. Basta clicar no botão abaixo para fazer o download de todos os números disponíveis.

Táta NgangaKamuxinzela
Cova de Cipriano Feiticeiro

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REVISTA NGANGA: A REVISTA DA
FEITIÇARIA TRADICIONAL BRASILEIRA

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SÃO CIPRIANO

O mito de São Cipriano é a parabola que representa a conexão que todo magista se esforça em estabelecer com um espírito tutelar e, a partir disso, operar os milagres da magia e coroar sua carreira mágica com a deificação de sua alma. Em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago, este espírito tutelar é o Sagrado Anjo Guardião; nos Papiros Mágicos Gregos é o paredros; na tradição fáustico-cipriânica é o Diabo; na Quimbanda é o Exu. São Cipriano é o Herói par excellance da tradição da goécia como cultura ctônica viva da magia no Ocidente. Ele representa, no contexto da goécia como tradição viva, a interface necromântica com o mundo dos espíritos e a própria realização da carreira magística: a apoteóse da alma.

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O Livro de São Cipriano

Deve ser entendido que O Livro de São Cipriano, diferente de outros grimórios, não é uma relíquia de um distante passado mágico, ele não é um livro antigo e morto que espera para ver a luz novamente através de um devotado magista. O Livro de São Cipriano não se trata de um livro; ele não está localizado no tempo ou no espaço. Como qualquer culto, ordem ou religião viva e ativa, trata-se de um contínuo, uma corrente. Ele muda seu conteúdo porque está vivo, porque é praticado e vivido em vários contextos culturais, sociais e geográ-ficos diferentes, e ele constantemente responde as necessidades de seus leitores.

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O CHAMADO DOS DEUSES PRÓPRIOS: JÂMBLICO, FORTUNE, QUIMBANDA & LEALDADE À ANCESTRALIDADE

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Este ensaio, assinado por Táta Nganga Kamuxinzela e que será publicado na Revista Nganga, No. 13, propõe uma crítica contundente ao ecletismo esotérico contemporâneo a partir de uma perspectiva iniciática enraizada. O autor articula com rigor doutrinário os fundamentos da teurgia oplatônica (especialmente a partir de Jâmblico) e a tradição esotérica ocidental (representada por Dion Fortune) com os princípios espirituais da Quimbanda afro-brasileira. O texto defende a tese de que a prática mágica autêntica exige filiação ancestral e fidelidade simbólica às linhas espirituais próprias, e que o culto a deuses estrangeiros sem iniciação adequada compromete a eficácia ritual e a integridade psíquica do operador. O autor fundamenta sua argumentação com vasta bibliografia — de Jâmblico a Pierre Hadot, de Dion Fortune a Gregory Shaw — estabelecendo pontes entre filosofia antiga, Ocultismo moderno e práticas afro-diaspóricas.

Ao integrar conceitos como seira (no platonismo teúrgico) e egbé òrun (na cosmologia yorùbá), o ensaio elabora uma ontologia comparada que sustenta a Quimbanda como uma forma legítima de teurgia crioula. Através de uma crítica à desritualização pós-moderna e à adoção irresponsável de deuses exóticos, o texto reafirma a centralidade das linhas ancestrais, dos sunthēmata e dos assentamentos telésticos como pilares de qualquer sistema esotérico sério. Este texto se insere, assim, no esforço mais amplo da Revista Nganga de construir uma epistemologia da feitiçaria tradicional brasileira que seja, ao mesmo tempo, enraizada, iniciática e filosoficamente sofisticada.

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O OCHĒMA-PNEUMA: NA TEURGIA & NA CABALÁ CRIOULA

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Este estudo examina a doutrina do ochēma-pneuma — o veículo pneumático da alma — a partir das tradições do platonismo teúrgico, da hermética greco-egípcia e da cosmologia banto-congolesa. Reconstruindo os fundamentos metafísicos da alma enquanto entidade intermediária entre o mundo imaterial e o mundo denso, o texto mostra como esse corpo sutil, composto de pneuma, desempenha funções essenciais no processo de corporificação, percepção e deificação da alma. A pesquisa aborda os escritos de Platão, Aristóteles, Plotino, Porfírio, Jâmblico, Proclo e os Oráculos Caldeus, articulando-os com os conceitos esotéricos de augoeides, imaginação divina (phantasia) e ascensão ritual por meio da teurgia.

No núcleo do estudo está o diálogo comparado com a cosmologia banto, especialmente o conceito de mwèma e os ciclos da dikenga, onde o corpo espiritual é igualmente concebido como um sopro divino passível de purificação, fortalecimento e deificação. A analogia entre ochēma-pneuma e mwèma revela uma surpreendente afinidade transcultural: tanto na teurgia platônica quanto na Quimbanda de raiz banto, o corpo sutil é o eixo da regeneração espiritual e da deificação da alma. O texto conclui com a tese de que a Quimbanda preserva, em sua estrutura ritual e doutrinária, uma das mais sofisticadas formulações da deificação da alma — tornando-se, assim, herdeira viva de um esoterismo universal, técnico e operatório.

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O ALTAR NA QUIMBANDA COME

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O ensaio O Altar na Quimbanda Come é uma investigação doutrinária sobre a ontologia sacrificial da Quimbanda enquanto feitiçaria tradicional brasileira. Articulando os pressupostos teúrgicos de Jâmblico com os fundamentos do hermetismo alexandrino, dos grimórios europeus e das culturas religiosas banto e yorùbá, o texto estabelece com precisão a equivalência ontológica entre altar e assentamento. Para além de uma distinção técnico-litúrgica, o Táta Kamuxinzela propõe uma redefinição profunda da prática ritual afro-diaspórica como economia de reciprocidade vital: o altar é uma boca que come, e o espírito — quando devidamente assentado, corporificado e alimentado — torna-se presença operativa na vida do feiticeiro.

A análise adentra os campos da teurgia platônica, da antropologia das religiões e da metafísica da geração, conectando o corpo mágico do nkisi banto, o princípio yorùbá do ẹbọ e a lógica sacrificial greco-romana à prática viva da Quimbanda. Ao demonstrar que a eficácia espiritual está intimamente vinculada à substância oferecida — e não a abstrações devocionais —, Táta Kamuxinzela combate a estetização moderna da prática e reafirma o lugar do sangue, do corpo e da comida como suportes concretos da manifestação espiritual. Trata-se, assim, de um texto indispensável para estudiosos da feitiçaria tradicional, da teurgia ocidental e das religiões afro-atlânticas, bem como para praticantes que desejam compreender o porquê, o como e o para quem o altar da Quimbanda efetivamente come.

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O REINO DOS MORTOS ESTÁ EM TODA PARTE

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O sétimo ensaio da Revista Nganga No. 13, assinado por Táta Kamuxinzela, aprofunda as implicações filosóficas, teúrgicas e etnográficas da concepção do Reino dos Mortos como estrutura imanente na cosmologia da Quimbanda. Partindo da afirmação de que o Norte teológico da Quimbanda é europeu — centrado na figura demonológica do Diabo —, o texto investiga como esse eixo se entrelaça, de modo indissociável, com uma ontologia sacrificial e vitalista de matriz banto, especialmente congo. A análise detalha os complexos anímicos (moyo, nsala, mwèla), a cosmografia da kalunga e os princípios de sacralização da matéria pelo sangue, revelando como o Submundo ancestral permeia todos os espaços e tempos do mundo visível — acessível por portais rituais, governado por Exus e operado por feiticeiros em estados de travessia.

Combinando rigor acadêmico e linguagem iniciática, o autor propõe uma cartografia mágica em que a Quimbanda emerge como síntese afro-diabólica do Atlântico Negro: uma feitiçaria operativa que une os grimórios europeus às tecnologias espirituais da África Central. O ensaio reinterpreta criticamente o tempo dos mortos como inversão rítmica do tempo dos vivos, relaciona sombras e ancestralidade às zonas de poder natural e destaca a centralidade dos rituais de transição — como a defumação, a pintura ritual e o culto contínuo à memória dos mortos. Por fim, reafirma a Quimbanda como ciência sacrificial de presença espiritual, que dissolve dicotomias convencionais entre corpo e alma, espaço e espírito, vida e morte.

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GEOMETRIA DO DIABO: FUNDAMENTOS, PONTOS E ARQUITETURA MÁGICA DA QUIMBANDA

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O ensaio Geometria do Diabo, composto como parte do grimório doutrinário da família tradicional de Quimbanda, a Cova de Cipriano Feiticeiro, oferece uma sistematização teúrgica e técnico-operacional das estruturas fundamentais da Quimbanda Nàgô. A partir de um corpo textual que alia erudição esotérica, etnografia religiosa e prática iniciática, Táta Kamuxinzela apresenta os fundamentos mágicos do culto — a zimba, a pemba, a dikenga,  a tronqueira, a cafúa e o cruzeiro — como dispositivos operativos que constituem uma verdadeira arquitetura espiritual. Trata-se de uma proposta sofisticada que compreende o terreiro não como espaço devocional, mas como máquina mágica, estruturada segundo princípios de contenção, comando e afinação mágicas.

O texto também se debruça sobre a herança da cosmologia congo-angolana e sua incorporação na Quimbanda como pano de fundo cosmológico e geomântico, destacando a influência da dikenga e da mpemba na concepção dos pontos riscados e nos sistemas de comunicação com os espíritos. Além disso, refuta o sincretismo superficial com o esoterismo cristão ou a mediunidade umbandista, ao afirmar uma teologia infernal autônoma, fundada em hierarquias demoníacas, pactos mágicos e práticas de manipulação da luz astral. A tríade formada pela Tronqueira, Cafúa e Cruzeiro das Almas é apresentada como a expressão plena da engenharia mágica da Quimbanda, estruturando o culto em torno de uma geografia sagrada onde o Diabo finca seu trono e exerce seu governo.

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O ESOTERISMO OCIDENTAL: HISTÓRIA, PARADIGMAS E RITUAIS INICIÁTICOS

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Este estudo oferece uma análise abrangente do esoterismo ocidental enquanto campo emergente nas ciências da religião. Partindo dos paradigmas propostos por Antoine Faivre — o esoterismo como forma de pensamento — e por Wouter Hanegraaff — o esoterismo como gnosis — o texto percorre os principais debates sobre a definição, historicidade e metodologias aplicáveis ao fenômeno esotérico. A distinção entre correntes e noções, a estrutura dinâmica das manifestações esotéricas e a relação com processos de secularização e psicologização são investigadas com precisão doutrinária e rigor filosófico.

Ao fim do percurso, a Quimbanda surge como uma resposta original do Brasil à tradição esotérica ocidental, integrando magia cerimonial, práticas de feitiçaria, culto aos mortos e concepções gnósticas da alma em um sistema coerente, complexo e enraizado no solo mestiço da experiência colonial. Diferente da apropriação psicologizante ou sincretismos morais, a Quimbanda afirma-se aqui como doutrina, culto e sistema iniciático — um verdadeiro esoterismo à brasileira. Sua inclusão neste ensaio visa recolocá-la como parte do campo do Ocultismo brasileiro e clama por um novo paradigma de investigação acadêmica que esteja à altura de sua profundidade simbólica, teológica e ritual.

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A COSMOGONIA DA QUIMBANDA NÀGÔ

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O artigo A Cosmogonia da Quimbanda Nàgô, assinado por Táta Kilumbu com introdução e edição de Táta Kamuxinzela, constitui um marco no esforço contemporâneo de sistematização teológica da Quimbanda como tradição autônoma, com fundamentos próprios e coerência interna. A partir de uma leitura precisa dos princípios cosmológicos e gnosiológicos herdados das culturas banto e afro-diaspóricas nas américas, o texto delineia os eixos centrais da criação do mundo e da estruturação dos reinos da Quimbanda, enfatizando a função iniciática dos Gangas e a natureza espiritual da Kalunga como matriz ontológica e escatológica do culto. Em diálogo com elementos do esoterismo ocidental e da hermenêutica teúrgica, a cosmogonia aqui exposta reinterpreta noções como encruzilhada, sombra e destino a partir de categorias originárias, fundando um vocabulário teológico original que reivindica legitimidade epistêmica para os saberes de terreiro.

 

Este artigo representa um desdobramento direto das reflexões apresentadas em Ganga: a Quimbanda & o Renascer da Magia (2023), obra da Cova de Cipriano Feiticeiro. Em continuidade ao projeto de reestruturação filosófica e ritual da Quimbanda Nàgô, a presente cosmogonia se destaca não apenas como um exercício descritivo, mas como um gesto de refundação: ela não apenas explica o mundo, mas o reinscreve à luz de uma ontologia própria, na qual os Exus e Pombagiras não são espíritos da Umbanda, mas potências divinas enraizadas em uma visão de mundo africana, rebelde e iniciática. Ao publicar este texto, a Revista Nganga reafirma seu compromisso com a elaboração doutrinária e com a sofisticação intelectual da Quimbanda como religião de mistério, magia e filosofia.

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ELEMENTOS DE UMA METAFÍSICA OPERATIVA: NOTAS PARA A TEORIA DA  UNIVERSALIDADE DAS TÉCNICAS DE MAGIA & FEITIÇARIA 

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Este ensaio apresenta os quatro pilares doutrinários que sustentam a metafísica operativa da Cabalá Crioula, conforme desenvolvida por Táta Nganga Kamuxinzela no livro Kalunga: Teurgia & Cabalá Crioula. A partir de uma perspectiva comparativa entre o platonismo teúrgico (com base em Jâmblico, Proclo e no Corpus Hermeticum) e a cultura mágico-ancestral da Quimbanda, o texto articula os seguintes elementos: o papel do ochēma-pneuma na deificação da alma, a função do sacrifício como catalisador de presença espiritual, a arte teléstica (telestikē) de fixação do divino em imagens e objetos, e a doutrina do daimōn pessoal como chave de integração entre destino, vocação e ritual.

Com rigor filosófico e linguagem iniciática, o artigo demonstra como essas quatro estruturas formam um circuito comum de operações mágico-religiosas que atravessa culturas e cosmologias, reafirmando a tese de que as técnicas de magia e feitiçaria são universais em sua lógica e eficácia. Trata-se de uma contribuição inédita para os estudos esotéricos afro-diaspóricos, propondo uma ontologia viva do rito e uma gnosis encarnada da presença espiritual. O texto é acompanhado de notas técnicas e doutrinárias que situam sua proposta no campo das Ciências da Religião, da filosofia da religião e da teologia esotérica.

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A CORPORIFICAÇÃO DE UM ESPÍRITO NO MUNDO MATERIAL:
TELESTIKĒ & CABALÁ CRIOULA

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O presente ensaio, intitulado Telestikē & Cabalá Crioula, propõe uma articulação técnico-teúrgica entre o conceito de animação de estátuas (telestikē), oriundo do platonismo teúrgico e do hermetismo alexandrino, e os ritos sacramentais da Quimbanda Nàgô, especialmente no que concerne à corporificação dos Gangas. A partir das leituras filosóficas de Algis Uždavinys e da crítica de Jake Stratton-Kent, o texto demonstra que os fundamentos da Quimbanda operam segundo uma lógica metafísica análoga à teurgia antiga: o nascimento de corpos espirituais por intermédio de agentes humanos iniciados que servem de canais rituais para a manifestação de potências ancestrais. Ao abordar a fabricação do aluvaiá como processo de assimilação da Forma arquetípica das linhas de trabalho à matéria consagrada, o ensaio rompe com as distinções hierárquicas entre magia popular e filosofia sagrada, propondo a goēteia como forma legítima de theourgia ctoniana.

Mais do que uma comparação entre práticas rituais distintas, o texto afirma a Quimbanda como expressão viva de uma cosmogonia operativa, onde o mito é encarnado pelo rito, e o espírito encontra morada ontológica no mundo sensível. Ao traçar paralelos entre os ritos mesopotâmicos de mis pi, os processos egípcios de abertura da boca e a fundamentação dos Gangas no culto afro-brasileiro, Telestikē & Cabalá Crioula consolida uma visão sacramental da imagem e do corpo espiritual, onde Exu, nascido da hierogamia entre Beelzebuth e Ashtaroth, toma seu trono — o assentamento teléstico — como forma viva e ativa da sua Presença. O ensaio é uma contribuição teológica e filosófica à revalorização da Quimbanda como escola iniciática enraizada na terra, na morte e na potência dos deuses terrestres.

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QUEM ESTÁ LÁ? IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS NAS IMAGENS DE CULTO

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Este ensaio inscreve-se na interseção entre o esoterismo ocidental e a ontologia operativa afro-diaspórica da Quimbanda, propondo uma interpretação filosófico-metafísica da presença espiritual nas imagens, assentamentos e fetiches de culto. A partir da doutrina do daimōn como espírito intermediário entre o divino e o humano — conforme delineada por Platão, Jâmblico e os textos herméticos — Táta Kamuxinzela examina a fórmula mágica prática que fundamenta tanto a telestikē grega quanto e arte de «reencarnação» ou corporificação dos Espíritos Ganga nas formas rituais, i.e. nos assentamentos telésticos afro-brasileiros. A pergunta Quem está lá?, feita diante de um ídolo, não é aqui uma provocação simbólica, mas um problema teológico real, que mobiliza questões de identidade ontológica, responsabilidade ritual e efetividade mágico-espiritual. Assim, o ensaio ultrapassa os limites da teologia abstrata e propõe uma ontologia operativa, onde forma e espírito se entrelaçam pela ação ritual do magista.

Ao contextualizar essa doutrina da presença entre Alexandria, Ifẹ̀ e as encruzilhadas urbanas do Brasil, Táta Kamuxinzela contribui decisivamente para a constituição de um Ocultismo brasileiro — não como simples apropriação do esoterismo europeu, mas como sua reconfiguração enraizada em práticas afro-indígenas de possessão, consagração e mediação. O texto articula, com erudição acadêmica e precisão iniciática, as cosmologias do Mundo Antigo (egípcia, grega e hermética), às cosmologias africanas banto-yorùbá e à goécia ctoniana da Quimbanda, propondo um esclarecimento sobre teologia da imagem animada. O Ganga, neste quadro, é não apenas um espírito ancestral, mas um verdadeiro daimōn (espírito) teléstico, corporificado ritualmente para agir no mundo. Trata-se, portanto, de uma contribuição singular ao campo do esoterismo brasileiro contemporâneo, em que o pensamento ocultista se reorienta pela ancestralidade encarnada da imagem viva — numa encruzilhada espiritual entre África e Alexandria.

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QUIMBANDA GOÉCIA: ASSENTANDO DEMÔNIO

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O presente ensaio, Quimbanda Goécia: Assentando Demônio, se insere no contexto dos estudos do Daemonium: a Quimbanda & a Nova Síntese da Magia, e articula a matriz afro-diaspórica brasileira com a demonologia fáustica franco-latina e a feitiçaria popular cipriânica da Península Ibérica. A partir de um enquadramento histórico que remonta ao período apostólico e se prolonga até a reelaboração operada por Aluízio Fontenelle nos anos 1950, o texto analisa a constituição de uma ontologia ritual própria, centrada no culto ao espírito tutelar como eixo operativo. O ensaio evidencia como, nesse processo, a Quimbanda absorve e reformula categorias e práticas da demonologia salomônica e da magia necromântica fáustico-cipriânica, preservando simultaneamente fundamentos cosmológicos e técnicas herdadas da pajelança e feitiçaria brasileira.

 

O ensaio focaliza ainda o papel de Clauneck e de Exu Pantera Negra como exemplares paradigmáticos dessa síntese, explorando suas correspondências astrais, funções no campo de atuação da prosperidade financeira e integração na hierarquia encabeçada pelo Chefe Império Maioral. Ao discutir o assentamento como teogonia operativa e como formalização hierárquica, o texto demonstra que a Quimbanda Goécia não se limita a um sincretismo descritivo, mas se configura como uma via iniciática autônoma, capaz de dialogar criticamente com o esoterismo ocidental e de afirmar-se como expressão legítima e madura do Ocultismo brasileiro.

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TEOLOGIA NOTURNA DA QUIMBANDA

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Na Quimbanda Goécia, a teologia noturna se revela como um sistema vivo, enraizado na astrologia ctônica e na dinâmica entre os espíritos do Grimorium Verum e os Gangas da Quimbanda. Longe de seguir listas fixas, essa correspondência é flexível e contextual, refinada pela leitura astrológica e pela função real do trono espiritual no mapa do operador. Desde o Occult Revival francês do Séc. XIX — quando o Verum chegou ao Brasil sob forte influência cultural — até a síntese formulada por Aluízio Fontenelle, a Quimbanda integrou a demonologia diabologia do Verum a seus próprios fundamentos, criando um corpo operativo coeso. A astrologia ctônica, fundamentada nas mansões da Lua e nas estrelas fixas, torna-se a chave para identificar tronos, selos e portais de fixação das inteligências espirituais do Verum em relação aos Gangas e ao kimbanda.

Nos estudos de caso, essa lógica se confirma: na Carta Natal de Fontenelle, o Nodo Norte em 0° de Áries — grau atribuído a Lúcifer no Verum — marca seu papel como codificador investido de força luciférica da Quimbanda. Já no mapa de Mameto Mwanajinganga, o Ascendente em 29° de Capricórnio, grau liminar mortuário, conecta-se ao Frucissière do Verum (12° de Capricórnio) e, na Quimbanda, a Exu Caveira, executor e guardião da Kalunga Pequena. Dois exemplos que mostram como a astrologia ctônica revela as pontes ocultas entre os espíritos do Verum e os Gangas da Quimbanda, confirmando que tais associações são vivas, adaptáveis e, acima de tudo, operativas.

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QUIMBANDA GOÉCIA: A CARTOGRAFIA CELESTE

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Tenho plena ciência de que a matéria aqui exposta não se presta ao consumo rápido nem ao entendimento superficial. A teologia noturna da Quimbanda, articulada a uma cartografia celeste que integra Mansões Lunares, Estrelas Behenianas e a mecânica operativa do Grimorium Verum, constitui um saber reservado, fruto de iniciação, transmissão e prática continuada. Seu vocabulário técnico, sua cosmologia híbrida e sua aplicação ritualística exigem que o leitor seja mais do que um curioso: requer-se nele a condição de kimbanda ou, ao menos, de aspirante consciente da seriedade do ofício. Por isso, não me preocupa — antes, me tranquiliza — o fato de que muitos nada compreenderão. A Quimbanda não é, nem jamais será, um caminho para todos: é uma arte perigosa, soberana e seletiva, cuja entrada não se negocia.

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TEOLOGIA NOTURNA AVANÇADA

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O estudo da série de artigos Quimbanda Goécia trata-se de teologia noturna avançada. Em outras palavras, cosmovisão de Quimbanda para adeptos avançados.

Na estrutura doutrinária da Quimbanda, os Nove Reinos não devem ser compreendidos como espaços fixos, mas como diagramas espirituais dinâmicos, comparáveis às casas zodiacais na astrologia helenística ou às mansões lunares na tradição árabe. Cada Reino constitui um campo de mediação entre vivos e mortos, onde a circulação de forças é regulada pela dinâmica dos planetas errantes. Essa perspectiva define a Quimbanda não apenas como culto-ritual, mas como uma verdadeira teologia noturna: um sistema de pensamento e prática no qual astros, as inteligências terrestres da goécia e a ancestralidade se interligam em um mesmo horizonte operativo.

Nesse sentido, a astrologia é retomada não como mera técnica de cálculo ou previsão, mas como tecnologia espiritual aplicada, capaz de potencializar e orientar a práxis mágica. Os planetas — Saturno, Marte, Vênus e os demais — não são reduzidos a signos abstratos, mas compreendidos como correntes ctônicas de poder, fluxos que atravessam e vitalizam os Reinos da Quimbanda. Tal articulação insere a tradição em um campo mais amplo de diálogo com o esoterismo ocidental, confirmando a Quimbanda como síntese viva entre heranças afro-diaspóricas e a cosmologia mágica do Mediterrâneo tardo-antigo.

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DEUSES DO SUBMUNDO, O SOL NEGRO & A QUIMBANDA

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O ensaio Os Deuses do Submundo, o Sol Negro e a Quimbanda insere-se no esforço maior de compreender a Quimbanda como expressão legítima do Ocultismo brasileiro, em continuidade à feitiçaria ctônica do Mediterrâneo antigo e África. Partindo do estudo dos deuses do submundo grego e das práticas de goēteia registradas desde Homero até os Papiros Mágicos Gregos, o texto demonstra como a articulação entre necromancia, astrologia e teurgia formou uma gramática religiosa subterrânea que, séculos mais tarde, ressurge na diáspora africana em solo brasileiro. A ênfase recai sobre a permanência de estruturas simbólicas e rituais: descidas ao mundo inferior (katábasis), epifanias noturnas, e o reconhecimento de espíritos intermediárias, geralmente ancestrais tutelares, como mediadores entre vivos e mortos.

 

Nesse horizonte, a Quimbanda é apresentada não como folclore, mas como sistema teológico sofisticado, herdeiro e reelaborador dessas tradições ctônicas. O eixo interpretativo do Sol Negro, entendido como símbolo do brilho oculto no interior da escuridão, permite aproximar Hermes Ctonius, Hécate e os Dáctilos dos Gangas da Quimbanda, revelando convergências estruturais entre o mundo helênico e a experiência afro-brasileira. A teologia lunar proposta indica que a luz subterrânea não nega a noite, mas a transfigura, fazendo do rito ctônico uma pedagogia espiritual. Assim, o texto reafirma a Quimbanda como filha bem-sucedida da Nova Síntese da Magia, um capítulo singular da história global da goēteia.

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