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MAGIA NEGRA BRASILEIRA

Foto do escritor: Fernando LiguoriFernando Liguori



Por Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago


A Quimbanda é uma tradição espiritual profundamente enraizada no solo brasileiro, onde se manifesta como uma forma poderosa e autêntica de magia negra, necromancia e nigromancia. Em sua essência, é um sistema mágico que estabelece uma ligação direta e visceral com os espíritos dos mortos, os Exus e as Pombagiras, figuras centrais e tutores espirituais desse universo. Ao mesmo tempo, a Quimbanda incorpora a influência da magia demonológica europeia, em especial do Grimorium Verum, que integram a dimensão demonológica às práticas da Quimbanda, criando um caminho de manipulação e domínio de energias espirituais para influenciar o mundo material.

 

A prática da magia negra na Quimbanda é intrinsecamente ligada ao Reino das Trevas e a um fluxo de energia telúrica e ctônica que reside nos planos mais profundos da existência material. Aqui, espíritos como Exu Sete Sombras e Exu Penumbra desempenham papéis fundamentais, sendo invocados tanto para proteção quanto para operações ofensivas. Este Reino das Trevas é um domínio de intensa energia, onde a magia negra é praticada em sua forma mais autêntica, sem submeter-se às noções morais convencionais de bem e mal. A Quimbanda é amoral por natureza; ela canaliza forças que transcendem julgamentos e são direcionadas exclusivamente pelo propósito e responsabilidade do praticante.

 

A necromancia na Quimbanda reflete-se na comunicação com os mortos, os espíritos Gangas – ancestrais e guias espirituais que, através dos rituais e oferendas, oferecem conhecimento e poder ao praticante. Através do sincretismo com a nigromancia europeia, Exus como Exu Pedra Negra são associados a demônios do Grimorium Verum, como Clauneck, reforçando a natureza diabólica da Quimbanda, que não renuncia a suas raízes espirituais africanas, mas sim as incorpora, expandindo suas práticas com a profundidade e complexidade do Ocultismo europeu.

 

O táta-nganga, como mestre da tradição, é o responsável por guiar os iniciados nas práticas de necromancia e nigromancia, ajudando-os a navegar com segurança pelo Reino das Trevas e a interagir com esses espíritos poderosos. Com isso, a Quimbanda se apresenta não apenas como uma prática de magia negra, mas como uma verdadeira síntese da magia ocidental e afro-brasileira – uma nova síntese da magia, onde o poder dos espíritos ancestrais se funde com os princípios da magia cerimonial europeia.

 

Os rituais de sacrifício, o uso do sangue como veículo do àṣẹ e a reverência aos assentamentos espirituais são fundamentais, pois reforçam a conexão com o sagrado e garantem a eficácia da prática mágica. A Quimbanda é, portanto, uma via de acesso ao invisível, uma tradição dinâmica e viva, que preserva sua autenticidade e seu poder ao se adaptar e evoluir com o tempo, mantendo-se fiel às suas origens enquanto se conecta ao mundo contemporâneo. É uma tradição que não apenas respeita, mas revitaliza o legado dos que vieram antes, trazendo a magia negra para a realidade do praticante moderno, com uma força que continua a impressionar e transformar aqueles que se dedicam ao seu caminho.

 

REINO DAS TREVAS

 

Na Quimbanda, a magia negra está intimamente conectada com o que chamamos de Reino das Trevas – um domínio de forças primordiais, intensamente carregado de energia ctônica, onde operam os Exus mais poderosos e agressivos da tradição. Este reino é descrito como um plano de existência onde a luz da moralidade humana e as fronteiras convencionais entre o bem e o mal desaparecem. Aqui, encontramos energias que são amplamente movidas pelo desejo, pela vingança e pelo impulso de transformação e domínio. Os Exus do Reino das Trevas habitam as profundezas mais densas da cosmogonia da Quimbanda, onde o poder bruto é não apenas respeitado, mas exaltado.

 

No Reino das Trevas, Exus como Exu Sete Sombras e Exu Penumbra são as figuras principais que atuam como guardiões e manipuladores das energias ocultas. Estes Exus são invocados para operações de feitiçaria que vão desde o ataque espiritual à proteção extrema. Exu Sete Sombras, por exemplo, é conhecido por seu domínio sobre as sombras da psique humana, e seu trabalho muitas vezes envolve o desencadeamento de angústias e medos profundos em inimigos designados pelo praticante. Através de pactos específicos e oferendas apropriadas, Exu Sete Sombras pode lançar maldições poderosas que desgastam o espírito e a força vital de uma pessoa, levando-a ao desespero e à confusão mental.

 

Exu Penumbra, por sua vez, atua nos limiares entre luz e escuridão, sendo ideal para feitiços de ilusão, camuflagem e enganação. Ele é invocado para esconder as verdadeiras intenções do praticante, tornando-o invisível a olhos curiosos e protegendo seus passos em ambientes hostis. Exu Penumbra é um mestre da manipulação da percepção, capaz de induzir visões, confundir adversários e criar ilusões que obscurecem a realidade.

 

Os tipos de feitiços realizados no Reino das Trevas são tão vastos quanto potentes, abrangendo diversas finalidades específicas. Entre eles destacam-se:

Maldições e quebra de proteções: Feitiços que visam desfazer proteções espirituais e expor o alvo às forças hostis do reino. Tais rituais geralmente exigem oferendas significativas, como sangue e itens pessoais do alvo, para assegurar que a energia de Exu penetre as barreiras espirituais alheias.

 

Feitiços de amarração e controle mental: Realizados para influenciar a vontade de uma pessoa, esses rituais utilizam o poder ctônico do Reino das Trevas para vincular o espírito do alvo ao desejo do praticante. Exu Sete Sombras é frequentemente chamado para esses trabalhos, trazendo submissão e obediência de forma gradual e constante.

 

Ataques psíquicos e espirituais: Invocações específicas de Exus do Reino das Trevas para causar tormento, pesadelos e desgaste emocional. Feitiços de ataque psíquico são frequentemente usados para debilitar o alvo, levando-o à exaustão mental e física. Esse tipo de trabalho é feito sob uma proteção rigorosa, onde Exus como Exu Caveira oferecem segurança ao praticante enquanto o feitiço é executado.

 

Feitiços de proteção e escudo de trevas: A magia do Reino das Trevas também abrange feitiços de proteção intensa, onde a força dos Exus é usada para criar barreiras impenetráveis ao redor do praticante. Exu Penumbra e Exu Caveira são invocados para erigir escudos de trevas, campos energéticos que bloqueiam qualquer intrusão espiritual e devolvem o ataque ao remetente com redobrada intensidade.

 

Feitiços de dominação e conquista: No Reino das Trevas, o desejo de controle e poder é celebrado. Tais feitiços são usados para ampliar a influência do praticante sobre pessoas ou situações, visando desde a manipulação em relações pessoais até a obtenção de sucesso material. Estes rituais requerem uma conexão direta com Exus do reino, e são executados através de pactos cuidadosamente estruturados para assegurar o efeito duradouro.

 

O Reino das Trevas, na visão da Quimbanda, não é apenas um local de energia bruta, mas um reflexo do poder interior do praticante, da sua capacidade de confrontar as próprias sombras e projetá-las no mundo. A magia negra aqui exercida não obedece a dogmas morais externos; ao contrário, é o praticante quem estabelece o limite e a direção do seu poder, guiado por seu táta-nganga e pelas forças incomensuráveis dos Exus.

 

CONCLUSÃO

 

O Reino das Trevas na Quimbanda é a expressão máxima da magia negra, um território onde o poder bruto e a busca incessante por domínio se manifestam em sua forma mais pura e indomável. Este reino é um espaço de resistência e autoafirmação espiritual, onde cada feitiço, cada invocação e cada sacrifício representam a luta do praticante para controlar as forças invisíveis que moldam sua realidade. Nele, não há espaço para hesitações ou para a limitação das convenções; aqui, a busca pelo poder é incessante, o desejo de transformação é profundo, e a coragem de enfrentar o desconhecido é essencial.

 

Exus e Pombagiras que habitam esse reino personificam o aspecto mais intenso e resoluto da Quimbanda, oferecendo ao praticante uma conexão direta com o invisível, com as energias telúricas e ctônicas que residem nas profundezas do plano material. Sob a orientação do táta-nganga, esses espíritos guiam, protegem e capacitam os que se dispõem a trilhar o caminho das sombras, promovendo uma prática mágica que desafia os limites e fortalece o espírito diante de quaisquer adversidades.

 

Assim, o Reino das Trevas não é apenas um domínio de magia, mas um reflexo do poder interior do praticante, da sua habilidade de confrontar e dominar suas próprias sombras. É uma jornada para além do bem e do mal convencionais, onde a magia negra se torna uma ferramenta de liberdade e autoexpressão. Encarar este reino é encarar a si mesmo em sua essência mais verdadeira, e para aqueles que ousam, é a promessa de um poder que transforma e transcende, moldando o próprio destino no fogo e na escuridão da magia ancestral.

 

Quer saber mais sobre a magia negra do Reino das Trevas na Quimbanda? Estude os livros Ganga: a Quimbanda no Renascer da Magia e Wanga: o Segredo do Diabo.



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