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QUIMBANDA & OCULTISMO

  • Foto do escritor: Fernando Liguori
    Fernando Liguori
  • há 3 dias
  • 12 min de leitura

Revista Nganga No. 13, editorial

 

 

Por Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela | @hermakoiergon | @goeteia.com.br

 

 

Desde sua fundação em 2020, a Revista Nganga tem se dedicado a demonstrar, com base historiográfica e doutrinária, a influência determinante do Ocultismo na gênese, estruturação e sistematização do culto da Quimbanda no Brasil. Esse trabalho caminha deliberadamente na contramão das mnemohistórias[1] forjadas à sombra da recente polarização político-cultural, nas quais a Quimbanda tem sido convertida em veículo de agendas ideológicas que distorcem sua identidade original. Tal abordagem não apenas fere a integridade do culto como nega a tradição da família iniciática que sustenta esta revista — a Cova de Cipriano Feiticeiro, guardiã dos trocos Nàgô, Mussurumin e Malê. Já na Revista Nganga No. 8 (2023), denunciamos esse processo em A Morte do Feiticeiro Branco na Quimbanda, apontando os esforços contemporâneos de higienização simbólica promovidos por eugenistas africanistas que buscam suprimir o eurocentrismo do culto. Contudo, é precisamente este eurocentrismo que, desde a formulação do Chefe Império Maioral — a Trindade Infernal presidida pelo Diabo —, constitui o Norte Espiritual da Quimbanda e sua espinha dorsal como sistema de feitiçaria.

 

Nas edições anteriores, amparados por extensa bibliografia acadêmica, documental e tradicional, demonstramos de forma sistemática a conexão estrutural entre a Quimbanda e o Ocultismo, desmontando as mnemohistórias em voga e expondo a inconsistência de suas narrativas ideológicas. A verdade, por vezes ignorada por conveniência política, é elementar: a Quimbanda é feitiçaria — ou seja, a arte de mobilizar, condensar e direcionar energia por meio de suportes materiais. Para além de qualquer elucubração intelectual ou aparato teórico, sua essência reside neste fundamento operativo.

 

A presente edição da Revista Nganga permanece fiel ao nosso compromisso editorial. Em continuidade aos estudos desenvolvidos ao longo das publicações anteriores, reafirmamos — com ênfase redobrada — a conexão intrínseca entre a Quimbanda e o Ocultismo. Termos como oculto, ocultismo, ciências ocultas, propriedades ocultas e filosofia oculta têm origem no adjetivo latino occultus, que significa escondido ou secreto. De modo geral, o que distingue o Ocultismo como domínio da atividade humana é sua orientação para os aspectos velados da realidade — aqueles que escapam à percepção comum e que exigem técnicas, símbolos e ritos para sua revelação. Trata-se de um campo de saber que dialoga tanto com a ciência quanto com a religião, mas que não se confunde plenamente com nenhuma dessas esferas. Os textos reunidos nesta edição, assim como os publicados nos volumes anteriores, abordam o Ocultismo como uma forma específica de teoria e prática espiritual que adquiriu configuração distinta na França de meados do Séc. XIX, especialmente pelos escritos de Alphonse Louis Constant — o célebre Éliphas Lévi (1810–1875).[2] Posteriormente, esse saber estruturado encontrou sua principal forma organizacional no universo anglófono com a fundação da Ordem Hermética da Aurora Dourada,[3] no final daquele mesmo século. As temáticas mobilizadas por esse fenômeno cultural coincidem amplamente com aquilo que hoje se denomina esoterismo ocidental,[4] abrangendo disciplinas como magia, alquimia, astrologia, tarot e suas respectivas ramificações e correspondências simbólicas. Embora seja teoricamente possível — ainda que metodologicamente árduo — separar os múltiplos fios que compõem a tradição ocultista e reduzi-la a uma unidade coerente, entendemos ser mais frutífero reconhecer a sobreposição temática e a fluidez categorial que definem sua riqueza. Uma das premissas centrais da Revista Nganga é justamente afirmar que o Ocultismo é um fenômeno multiforme, dinâmico e complexo — e que a Quimbanda, ao integrá-lo e ressignificá-lo em solo brasileiro, constitui uma autêntica tradição do Ocultismo mestiço e sul-americano.

 

Talvez o traço mais marcante da cosmovisão ocultista resida na centralidade do pensamento por analogia — ou pensamento correlativo — que organiza sua visão de mundo como uma vasta rede de simpatias, correspondências e relações simbólicas. Esse modo de pensamento busca apreender a realidade não por meio de causalidades lineares, mas por meio de ecos ocultos entre planos distintos do ser, onde o visível reflete o invisível e o microcosmo espelha o macrocosmo. No Ocidente, tal concepção foi sistematizada pelo platonismo médio e tardio, mas sua presença está longe de se restringir à cultura europeia: formas equivalentes de pensamento analógico são encontradas com igual profundidade nas tradições metafísicas da Índia, da China e em amplas zonas de suas influências civilizacionais. Trata-se, muito provavelmente, de uma tendência quase universal da consciência humana. No entanto, convém destacar que o pensamento por correspondência se manifesta sob múltiplas formas históricas, moldadas por suas respectivas condições sociais, religiosas e epistemológicas. A afirmação de sua natureza transcultural e duradoura, portanto, não implica a existência de uma essência fixa ou de uma forma estática, mas sim a persistência de um modelo simbólico de leitura do mundo que se reinventa a cada época.

 

Independentemente de suas pressuposições filosóficas ou metafísicas, os praticantes do Ocultismo tendem a fundamentar suas ações na lógica da analogia e da correspondência, estabelecendo nexos simbólicos entre atos físicos (como gestos rituais), palavras, imagens e os objetivos últimos de suas operações mágicas. Ao manipular cartas de tarot, por exemplo, enquanto concentra a mente sobre determinada questão, o ocultista interpreta os símbolos revelados como manifestações de um padrão oculto que conecta, por via de analogia, o estado interior do consulente, os arquétipos das cartas e as possibilidades do destino. Trata-se de um processo no qual a intuição e a imaginação desempenham papéis centrais — não como elementos arbitrários, mas como vias legítimas de conhecimento simbólico. Embora correntes como a astrologia, a alquimia e a magia cerimonial possuam aplicações práticas e objetivos utilitários, o Ocultismo se apresenta, em última instância, como uma via sapiencial: não apenas uma técnica de intervenção no mundo, mas uma cosmovisão integral que oferece uma explicação do real e um caminho rumo à realização espiritual. A busca por essa perfeição espiritual envolve a ideia de gnōsis — um saber absoluto, transformador e experiencial — que conduz à deificação da alma ou à reintegração com a fonte divina. Esse conhecimento salvífico, frequentemente velado por discursos de segredo, é compreendido como inefável e intransmissível pela linguagem ordinária. A aspiração gnóstica, contudo, não é uma invenção do Ocultismo moderno: desde a Antiguidade tardia, ela constitui o cerne do esoterismo ocidental. O filósofo renascentista Cornelius Agrippa (1486–1535),[5] ao definir a magia, sustentava que as emanações da fonte divina permeavam todos os níveis da realidade, inclusive os mais densos — e, por conseguinte, que era possível traçar o caminho de volta à origem. A cartografia do mundo, portanto, não servia apenas à descrição das coisas, mas à orientação de uma jornada espiritual ascendente, na qual a magia se afirmava como o veículo operante dessa ascese.

 

O contexto cultural que moldou os escritos centrais de Éliphas Lévi foi marcado por um crescente sentimento de crise frente à autoridade da ciência normativa e sua pretensão de explicar todos os aspectos da existência humana. Em meio a essa atmosfera de desencanto, torna-se compreensível o impacto que Lévi exerceu ao propor que a magia reúne numa só ciência aquilo que há de mais certo na filosofia e aquilo que é infalível e eterno na religião.[6] Sua obra ofereceu uma alternativa simbólica e espiritual ao materialismo moderno, recuperando o imaginário do saber oculto com uma linguagem que conciliava tradição e romantismo. Embora seu apego pessoal ao catolicismo romano — historicamente hostil à magia — tenha introduzido ambivalências em sua abordagem, Lévi foi decisivo ao reencenar a magia como ciência sagrada e caminho de elevação espiritual. Não por acaso, abre sua História da Magia com o relato dos anjos caídos que, segundo o Livro de Enoch, ensinaram os segredos mágicos às mulheres mortais — um mytheme que aponta para a origem celestial do saber mágico, mas também para sua transgressão arquetípica. Foi ao consagrar a magia como ápice do conhecimento humano e expressão das mais altas aspirações do espírito que Lévi firmou sua influência e deu impulso ao que se convencionou chamar de o renascer da magia na França do fim do Séc. XIX. Embora o uso de Lévi como marco inaugural do Ocultismo moderno seja, em parte, uma construção retrospectiva — já que seu pensamento dependia de correntes anteriores, como o mesmerismo e o magnetismo animal —, é inegável que sua obra pavimentou o terreno para o esoterismo organizado que viria a se desenvolver no mundo anglófono. Foi ali, e não na França, que o Ocultismo ganharia projeção internacional, sobretudo por meio de figuras como Helena Petrovna Blavatsky (1831–1891) e a Sociedade Teosófica; a Ordem Hermética da Aurora Dourada; Aleister Crowley (1875–1947) e seu sistema thelêmico; e Gerald Gardner (1884–1964) com o renascimento da bruxaria moderna. As histórias detalhadas desses movimentos excedem o escopo desta edição; para nossos fins, basta delinear o pano de fundo que permitiu à Quimbanda dialogar com esse vasto universo do Ocultismo moderno.[7]

 

O panorama delineado até aqui constitui, por necessidade metodológica, um esboço simplificado da estrutura conceitual do Ocultismo, conforme aparece nos principais manuais e obras introdutórias sobre o tema. Partimos da hipótese editorial de que nossos leitores já possuem alguma familiaridade com esse repertório, tal como o expomos, e observamos que a maior parte da produção acadêmica sobre esoterismo ocidental permanece ancorada nesses mesmos fundamentos. No entanto, assim como outros estudiosos contemporâneos, reconhecemos que o Ocultismo excede largamente os limites de uma doutrina livresca ou de um corpus esotérico codificado: trata-se de um fenômeno cultural e social complexo, dinâmico e geograficamente difuso, cuja expressão se transforma conforme os contextos em que se enraíza. Por isso, consideramos essencial expandir o escopo analítico, adotando uma cartografia mais ampla e sensível às singularidades culturais do território em que nos situamos. Para além dos paradigmas ocultistas franceses e britânicos — cuja importância histórica é inegável —, urge reconhecer a emergência de formas localizadas, mestiças e crioulas de Ocultismo, como é o caso brasileiro. A Quimbanda, nesse sentido, não é mera recepção periférica de modelos europeus: ela constitui, em si mesma, uma expressão original e autônoma do Ocultismo moderno, forjada na encruzilhada entre o esoterismo europeu, a religiosidade afro-diaspórica e o saber mágico indígena. Mesmo onde não há vínculo direto com escolas clássicas do Ocultismo ocidental, detectamos estruturas simbólicas, dispositivos rituais e princípios operativos que revelam afinidades profundas — mas sempre reinventadas à luz das condições históricas e espirituais do Brasil. É justamente nessas variações criativas, nascidas do encontro entre tradições distintas, que vemos o campo mais fértil de investigação. É sobre esse chão mestiço e ardente que a Revista Nganga No. 13 finca sua lâmina, reivindicando a Quimbanda como uma vertente legítima e enraizada de um Ocultismo brasileiro.

 

É importante deixar claro desde o início: não aderimos à ideia de um ocultismo universal — expressão vaga que, longe de esclarecer, tende a obscurecer a diversidade interna e a historicidade das tradições esotéricas. O Ocultismo é aqui compreendido como uma corrente particular dentro do campo mais amplo do esoterismo ocidental, cuja configuração moderna emerge a partir de dinâmicas sociais, culturais e intelectuais específicas. O Ocultismo se transforma ao ser transplantado, traduzido e reelaborado em novos contextos geográficos — i.e. como ele se reconfigura cultural, política e espiritualmente. Nesse sentido, nosso projeto se alinha a obras como The Place of Enchantment: British Occultism and the Culture of the Modern (2004), de Alex Owen; A Science for the Soul: Occultism and the Genesis of the German Modern (2004), de Corinna Treitel; Beyond the Enlightenment: Occultism and Politics in Modern France (2005), de David Harvey Allen; e Modern Occultism in Late Imperial Russia (2012), de Julia Mannherz; e finalmente Exu (1950), de Aluízio Fontenelle (1913-1952) — estudos que demonstram como o Ocultismo adquire formas diversas em contextos socioculturais distintos, ainda que conserve elementos estruturantes oriundos do Ocultismo francês do Séc. XIX, especialmente aquele sistematizado por Éliphas Lévi. Essa variedade já havia sido intuída por Joscelyn Godwin, em The Theosophical Enlightenment (1996), ao propor uma distinção entre ocultismo de esquerda — predominante nos países anglófonos, de feição solar, fálica e anticristã — e ocultismo de direita — de predominância francesa, profundamente vinculado ao catolicismo e ao desejo de restauração de uma tradição universal supostamente rompida pela Revolução Francesa. Essa clivagem revela como o Ocultismo seguiu trajetórias divergentes nos mundos britânico e francês.

 

Mas o que dizer do Ocultismo em outros cenários — como a Itália, a Turquia, os Bálcãs, o Brasil? Que dizer de suas formas mestiças, sincréticas, periféricas ou subterrâneas? É justamente nesse terreno que a Revista Nganga finca sua posição editorial: investigar os modos como o Ocultismo se enraizou, se traduziu e se reconfigurou na experiência brasileira, especialmente na Quimbanda, onde os influxos europeus — teosóficos, mágicos e filosóficos — foram entrelaçados à herança africana e à religiosidade indígena, dando origem a um modelo próprio de saber oculto, simultaneamente local e transnacional. Através de uma arqueologia crítica da feitiçaria no Brasil, reafirmamos que o Ocultismo, longe de ser monopólio do Norte, floresceu também nos trópicos — e ali assumiu formas tão legítimas quanto distintas.

 

Táta Nganga Kamuxinzela,

Editor



NOTAS:

[1] O termo mnemohistória (do alemão mnemohistorie, conforme desenvolvido pelo egiptólogo Jan Assmann, n. 1938) refere-se a narrativas construídas não a partir de dados verificáveis segundo critérios históricos críticos, mas sim de memórias coletivas ou representações simbólicas do passado que moldam identidades e tradições. No campo do Ocultismo, das religiões e do esoterismo ocidental, mnemohistórias são frequentemente mobilizadas para legitimar linhagens iniciáticas, reescrever origens e fixar versões ideologicamente convenientes da história. Aplicado ao contexto da Quimbanda contemporânea, o termo descreve a tendência recente de construir uma imagem africanizada da Quimbanda, que ignora sua constituição moderna, sincrética e profundamente influenciada por elementos do Ocultismo europeu e da mestiçagem brasileira.

[2] Alphonse Louis Constant, que adotou o nome esotérico Éliphas Lévi, foi a figura central do chamado renascer do ocultismo francês no fim do Séc. XIX. Ex-seminarista e autor de formação católica, Lévi desenvolveu uma síntese própria entre esoterismo cristão, simbolismo cabalístico e filosofia hermeticista, reunindo influências de obras alquímicas, da tradição mágica renascentista e de autores como Cornelius Agrippa (1486-1535) e Paracelso (1493-1941). Sua obra inaugural, Dogma & Ritual de Alta Magia (1854–56), combinou teoria e prática mágicas em uma linguagem acessível ao público burguês europeu, conferindo ao Ocultismo uma forma moderna e sistemática. A originalidade de Lévi não está na criação de uma nova doutrina, mas na reinterpretação do esoterismo tradicional à luz dos anseios espirituais da modernidade. Segundo Hanegraaff (Dictionary of Gnosis & Western Esotericism, Brill, 2006, pp. 888), Lévi não apenas articulou um modelo teórico para as ciências ocultas, como também inspirou diretamente as organizações esotéricas posteriores, notadamente a Ordem Hermética da Aurora Dourada e, por meio desta, o esoterismo anglófono do Séc. XX. Como demonstrei na Revista Nganga No. 12, a importância de Levi na gênese e sistematização da Quimbanda como hoje a praticamos não pode ser negligenciada, sendo uma inspiração profunda para Aluízio Fontenelle (1913-1952) em sua síntese inicial do culto.

[3] A Ordem Hermética da Aurora Dourada, fundada na Inglaterra em 1888 por William Wynn Westcott (1848-1925), Samuel Liddell MacGregor Mathers (1854-1918) e William Robert Woodman (1828-1891), foi uma sociedade iniciática dedicada ao estudo e à prática do esoterismo ocidental, combinando elementos de alquimia, cabalá, astrologia, magia cerimonial e tarot. Sua estrutura ritual e doutrinária exerceu enorme influência sobre o Ocultismo moderno, especialmente após ser adaptada por figuras como Aleister Crowley (1875-1947) e Dion Fortune (1890-1946).

No Brasil, embora traduções e ecos de seus ensinamentos já circulassem anteriormente, sua influência maciça só se consolidou após a década de 1990, com o acesso ampliado a fontes internacionais e à internet, que favoreceram o surgimento de ordens e grupos de estudo alinhados com sua tradição no contexto do Ocultismo brasileiro. Isso é importante ressaltar porque a Aurora Dourada é representante da escola inglesa de magia. A Quimbanda em sua formação foi influenciada pela escola francesa de magia, devido a ampla presença e influência da cultura francesa no Brasil do fim do Séc. XIX e início do Séc. XX. Veja Revista Nganga, No. 12.

[4] O termo esoterismo ocidental refere-se a um campo de saber historicamente situado no interior da cultura europeia e euro-americana, que se caracteriza por tradições, doutrinas e práticas espiritualistas consideradas esotéricas — i.e. reservadas a iniciados e não acessíveis à razão ou fé comuns. Segundo Wouter J. Hanegraaff (Dictionary of Gnosis & Western Esotericism, Brill, 2006, pp. xxli), trata-se de um rótulo historiográfico que engloba correntes como a alquimia, a astrologia, a magia cerimonial, o hermetismo, a cabala cristã, o rosacrucianismo, o mesmerismo, o Ocultismo moderno e a teosofia, todas unidas por uma epistemologia de correspondências, de mediação e de transmutação espiritual. Longe de representar uma unidade doutrinária, o esoterismo ocidental é melhor compreendido como uma constelação de saberes marginais, frequentemente posicionados em relação dialética com o racionalismo, o cientificismo e a ortodoxia religiosa dominante.

[5] Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim foi um filósofo, médico, jurista e magista alemão do Renascimento, reconhecido como uma das figuras mais influentes da tradição ocultista europeia. Profundamente versado nas línguas clássicas e nos textos da Antiguidade, Agrippa sintetizou os saberes do hermetismo, da cabala cristã e do platonismo tardio em sua obra mais célebre, Três Livros de Filosofia Oculta (1531), onde defende a magia como a mais nobre das ciências e o ponto culminante do saber humano. Em sua concepção, o universo é estruturado por correspondências simbólicas entre os planos divino, celestial e terrestre, e a magia é o método pelo qual o homem pode reencontrar, por via espiritual e intelectual, sua unidade com a fonte divina. Sua visão de mundo foi decisiva para a formulação moderna do Ocultismo, influenciando diretamente autores como Giordano Bruno (1548-1600), Paracelso e, séculos depois, Éliphas Lévi e a Ordem Hermética da Aurora Dourada.

[6] Éliphas Lévi. História da Magia. Pensamento, 1996, pp. 18.

[7] Helena Petrovna Blavatsky foi uma ocultista russa e uma das fundadoras da Sociedade Teosófica (1875), cujo projeto visava reunir ciência, religião e filosofia sob uma perspectiva esotérica global, com forte influência das tradições orientais. Sua obra principal, A Doutrina Secreta (1888), é um compêndio sincrético que influenciou profundamente o Ocultismo moderno. Aleister Crowley, magista britânico, foi iniciado na Aurora Dourada e mais tarde fundou o sistema de Thelema, cuja Lei central — Faz o que tu queres há de ser da Lei — tornou-se um dos pilares do esoterismo do Séc. XX. Canalizador de O Livro da Lei, Crowley desenvolveu uma vasta literatura ritual, mágica e iniciática, consolidando-se como figura-chave do Ocultismo ocidental moderno. Gerald Gardner, por sua vez, é amplamente reconhecido como o responsável pela codificação da Wicca, a vertente mais conhecida da bruxaria moderna, que emergiu no contexto pós-teosófico britânico e incorporou elementos da magia cerimonial, do teosofismo e do paganismo reconstruído. Juntos, esses três nomes moldaram, cada um à sua maneira, os principais paradigmas do esoterismo anglófono contemporâneo.


 
 
 

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