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A QUIMBANDA NO RENASCER DA MAGIA

Foto do escritor: Fernando LiguoriFernando Liguori


ganga nasceu como uma coleção de postagens realizadas em Rede Social sobre a Quimbanda, criando vez ou outra, pontes entre a feitiçaria tradicional brasileira, o hermetismo tradicional, a magia cerimonial, as culturas arcaicas da magia e os cultos de mistérios. Esse conjunto de opúsculos meditativos, portanto, é uma continuação do projeto iniciado no segundo volume do Daemonium:[1] o papel da Quimbanda no atual renascer da magia dos grimórios.


A intenção ao organizar esse projeto foi que ele se parecesse o máximo possível com um diário de reflexões mágico-iniciáticas. Para enriquecê-lo, adicionei alguns ensaios que não entraram no Daemonium (Vol. II) por algum motivo.


A palavra ganga é aportuguesada e deriva de um termo multilinguístico da cultura banto, nganga, conectado a ideia de poder sobrenatural, i.e. mágico, utilizado para designar o feiticeiro que trabalha com espíritos ancestrais ou tutelares (familiares), o técnico ritualista e curador (agente de equilíbrio social). No Brasil o termo ganga também é utilizado para designar hora o Exu de Quimbanda, hora seu fundamento, quer dizer, seu corpo físico ou assentamento.


O motivo pelo qual escolhi este termo não é apenas homenagear os Gangas da Quimbanda, mas dar continuidade ao estudo da formula mágica do espírito tutelar e sua importância na tradição da magia, que iniciamos no primeiro volume do Daemonium.[2] Essa obra, portanto, pode ser considerada um apêndice do segundo volume do Daemonium.


Se você está com este livro em mãos, imagino que seja um leitor de minhas obras. Vou partir desse ponto, do entendimento que você já conhece os meus escritos e, fundamentalmente, os dois volumes do Daemonium. Caso não seja esse o seu caso amigo leitor, peço que encerre a leitura deste volume e se dirija ao estudo dos dois volumes do Daemonium.


A série de volumes intitulada Daemonium explora a fórmula mágica universal do conhecimento & conversação com o espírito tutelar (ou familiar). Essa fórmula mágica é o Fio de Ariadine que jaz como pano de fundo aos métodos de magia na Antiguidade, passando pelas tradições de Cabalá Crioula na África, a tradição de feitiçaria europeia até a codificação da Quimbanda. Compartilho algumas passagens que ilustram a dimensão desta fórmula mágica universal:

 

O desejo de se comunicar com os espíritos é mais antigo que a história; relacionado com princípios indeléveis da natureza humana [...] e as tentativas de satisfazer esse desejo geralmente tomam uma forma que traz um grande ultraje a razão. [...] A constância da reiteração [da conjuração] feita com frequência aumenta sua autoridade e poder, e acomete o terror nos espíritos, submetendo-os a obediência. [...] No Egito, na Índia e na Grécia, não se lidava com diabos como no cristianismo; Typhon, Juggernaut e Hécate não eram divindades inferiores, mas sim deuses absolutos, e o ofício de Canídia era em sua maneira tão sagrado como os pacíficos mistérios de Ceres.[3]


A história da magia no Ocidente é em grande medida uma história focada na intervenção dos espíritos e dispositivos [mágicos]. A maior parte de nossos registros históricos, dos grimórios a estudos acadêmicos modernos, examina um tipo de magia que é operado abaixo do nível do adepto. Aqui encontramos o mago estabelecido com lamens, anéis, sigilos e livros; seu corpo adornado com vestimenta [cerimonial], ferramentas e toda uma parafernália que possibilita a intervenção dos espíritos. Cada um desses dispositivos é uma lição da arte. Quando criados pelo mago e trazidos a vida por meio do contato com os espíritos podem se tornar poderosos artefatos com laços autênticos com os espíritos. [...] Se nós começarmos a traçar o registro histórico da tradição ocidental de magia ritual até os antigos reinos da Grécia, Caldeia ou Egito, rapidamente perceberemos que o poder do mago reside na sua versatilidade e capacidade de se comunicar com uma quantidade variada de criaturas espirituais. [...] A magia que ele opera é mais um ato de mediação do que de desempenho próprio. Seja mediando anjos, demônios ou deidades, o antigo ritual de magia requer uma criatura espiritual trabalhando em função do mago no reino [da geração]. [...] O mago e suas ferramentas nesse contexto são meros portais das forças que passam através deles.[4]


Nos anos recentes a magia mudou. Nós tivemos uma explosão de publicações de textos tradicionais da magia europeia. Muitos magistas tiveram acesso a tradições vivas da magia. Nós vimos às tradições mágicas que foram obscurecidas pela tradição moderna [da magia]. Com essa consciência nós nos descobrimos em um mundo vivo repleto de espíritos; espíritos que têm vivido poderosamente, seres independentes que dão vida, dinamismo e poder a magia.[5]


Em todos os países e em todos os tempos, encontra-se comumente disseminada a crença em seres sobrenaturais, de uma classe inferior à dos deuses, que interveem diretamente no curso das coisas e especialmente nos assuntos humanos, seres benfazejos, maléficos ou indiferentes, com quem o homem procura se conciliar mediante práticas religiosas ou mágicas; é o povo inumerável e temível dos espíritos, demônios, anjos e gênios de toda espécie, invisíveis, ativos e obsessores.[6]


Nas mais antigas versões de histórias sobre espíritos familiares, nós somos orientados a não ouvi-los e segui-los cegamente, mas ao invés disso, a estabelecer uma relação com os espíritos, o que nos ajuda, com suas orientações, a estabelecer nosso compasso interno.[7]


Não há dúvida de que existem os espíritos Bons e Maus; e que estão em relacionamento com os homens; não há dúvida de que os ditos espíritos estão dotados de uma inteligência soberana, posto que a própria religião lhes dá o poder de tentar-nos, de induzirmos ao bem e ao mal; logo, se por meio da Magia pode o homem pôr-se em relação com estes espíritos, esse homem logrará alcançar a suprema sabedoria.[8]


Hécate, a deusa grega da feitiçaria, além de ser associada às encruzilhadas, matas selvagens, espaços limiares, também está conectada aos fantasmas, espíritos infernais e a necromancia. [...] A diabolização da necromancia eventualmente levou-a a ser renomeada para nigromancia (divinação negra), posteriormente classificada como magia negra ou arte negra. Isso transformou a percepção da arte, tornando-a sombria e relacionada ao diabo. [...] Quando animais são sacrificados [cerimonialmente] [...] está prática atrai e alimenta os espíritos dos mortos, que vêm beber o fluído da vida. [...] A arte da necromancia inclui o trabalho com ancestrais, trabalho onírico, convocação de sombras, comunicação com espíritos, e todas essas práticas combinadas para divinação, magia e feitiços.[9]


A Magia é a arte de submeter às potências da natureza à vontade humana. Entre essas potências há as entidades invisíveis, espíritos, gênios e demônios evocados mediante fórmulas, orações, encantamentos, talismãs, pantáculos, filtros e outros agentes naturais.[10]


Qualquer definição acurada sobre magia deve envolver conceitos como os de outros mundos, espíritos, daimones e deuses, porque essa é a premissa pela qual muitos magistas operam.[11]


Cipriano deveria, em princípio, ser entendido como um guia para aquela experiência maravilhosa quando o feiticeiro finalmente alcança o conhecimento e conversação com seu espírito patrono.[12]


O espírito assentado deixa de ser um mero «falangeiro» e torna-se um Mestre pessoal, responsável pelo desenvolvimento do adepto. [...] Um adepto não precisa ter muitas «linhas» para se desenvolver e sim, um único e grandioso Mestre que corra todos os Reinos e o ampare em sua jornada.[13]

 

Eu tenho me dedicado a este tema, o conhecimento & conversação com o espírito tutelar, há pelo menos vinte anos.[14] Quando um Neófito é admitido a Sagrada Ordem,[15] seu objetivo inicial é um tipo de transcendência espiritual através de uma experiência nomeada como o Conhecimento e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, inspirada na arte de magia sagrada promulgada em um grimório medieval chamado A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago. Após uma série de ordálios (provações mágicas na A∴A∴) o Adepto deve obter sucesso nessa experiência que na filosofia thelêmica é considerada o ato mais transcendente de magia branca. Trata-se do supremo ato mágico na verdade.


Essa busca inicial thelêmica me levou profundamente ao âmago dessa fórmula mágica de magia sagrada e fui levado a compreender através de imersão, estudo e prática a ideia original por trás do Sagrado Anjo Guardião moderno: o conhecimento & conversação com o espírito tutelar.


No primeiro volume do Daemonium nós exploramos a gênese dessa ideia no xamanismo na forma do espírito tutelar, nos Papiros Mágicos Gregos na forma do paredros (o daimon auxiliar), na teurgia tradicional neoplatônica na forma do aghato-daimon (o daimon pessoal), na magia de Abramelin e sistema thelêmico na forma do Sagrado Anjo Guardião. No Daemonium (Vol. II) escrevi:

 

1. o paredros é qualquer espírito assistente (tutelar), seja um espírito da natureza, a alma de um morto deificada (como os Exus da feitiçaria tradicional brasileira) ou deidades diversas, que inclui deuses e demônios; 2. o Exu tutelar é um ancestral, a alma de um morto deificada, dotada de sabedoria e poder de magia; 3. o Sagrado Anjo Guardião na tradição moderna da magia trata-se de um anjo de Deus que acompanha a alma humana no curso de sua encarnação no reino da geração; trata-se de uma evolução do conceito ou ideia do paredros dentro de uma visão neoplatônica-cristã.

 

O Sagrado Anjo Guardião do neoplatonismo-cristão moderno explorado primeiro na obra A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago e depois replicado na Ordem Hermética da Aurora Dourada e pela doutrina thelêmica de Aleister Crowley, trata-se da evolução de uma ideia universal na história da magia e já presente nas suas fases mais primordiais: o conhecimento e conversação com o espírito tutelar. O Sagrado Anjo Guardião de Abramelin é uma herança da interpretação daimônica grega – fundamentalmente de Jâmblico sobre o daimom pessoal – onde encontramos uma profunda e ampla tradição prática para se comunicar com espíritos assistentes. Diferente da voz por trás de um oráculo como o daimon que alimentava o Oráculo de Delfos, por exemplo, um daimon pessoal (grego) ou genii (romano) promove uma espécie de tutelaria ao mago: ele o guia oferecendo instruções práticas para a vida, exercendo influência sobre todas as ações escolhidas. Dessa maneira trata-se de um espírito tutelar ou guia espiritual.


Eu venho demonstrando que essa ideia é universal e está presente em inúmeras tradições, mas com nuances culturais diferentes. Na feitiçaria dos Papiros Mágicos Gregos o espírito assistente é chamado de paredros e ele pode ser de qualquer tipo: o espírito de um morto, uma criatura da natureza, orgânica ou sobrenatural, heróis, deuses etc. Como demonstrei em Daemonium (Vol. II), nos papiros gregos, dez são o número de textos que se referem ao paredros ou alguma de suas formas cognatas, como o paredoi, a alma deificada de um morto. O termo paredros significa «estar próximo» ou «ao lado». Nos papiros esse termo é aplicado ao espírito assistente ou familiar que serve ao feiticeiro. Stephen Skinner em seu Techniques of Graeco-Egyptian Magic diz:

 

O paredros é um servidor mágico. A apropriação de um daimon assistente ou familiar, o paredros, é um procedimento que sempre faz parte da magia e continua sendo. O racional disso é que, lidando com espíritos, sempre foi funcional ter um [espírito] que atue como apropriador e como guia ou intermediário com os habitantes do outro mundo. Esse tema aparece primeiro em «O Testamento de Salomão» e os textos greco-egípcios, no «Hygromanteia» e depois nos grimórios latinos salomônicos vernaculares. [...] O conceito de espírito familiar é uma ideia que perdura no tempo. [...] Muitas das confissões de feitiçaria dos Sécs. 16 e 17 envolviam a admissão de que a bruxa possuía um espírito familiar.[16]

 

Na teurgia clássica neoplatônica o espírito assistente é conhecido como aghato daimon, o bom espírito. A crença de modo geral é que o espírito tutelar confere ao feiticeiro/teurgo os seus poderes, lhe transmitindo suas virtudes na intenção de libertar a alma do cativeiro do Hades (o submundo, morada dos mortos e criaturas ctônicas) para os éteres superiores, morada dos anjos e deuses. O espírito assistente opera também como um intervetor: através dele é possível ter acesso a diversas criaturas espirituais e com a autoridade dele, comandá-las efetivamente: Salomão, Simão o Mago, São Cipriano, Abramelin, Fausto, a feiticeira e a diáboa, o xamã e o animal de poder são exemplos clássicos do conhecimento & conversação com o espírito tutelar. Ainda do Daemonium (Vol. II):

 

[...] a tônica ou direção pela qual a doutrina do daimon pessoal na teurgia evolui é completamente distinta da direção que a feitiçaria dos papiros gregos toma. [...] A prática da magia dos papiros gregos é goécia; o feiticeiro dos papiros gregos se relaciona com a pluralidade das formas e o Espírito da Natureza que rege toda essa diversidade de espíritos. O teurgo neoplatônico está mais interessado em se relacionar com o Uno-Bem através de suas emanações superiores, as virtudes do Plano das Ideias e os céus ou planos de luz e perfeição. Quando ele se relaciona com criaturas espirituais menores, daimones do reino da geração, estas estão sob o comando e autoridade de uma deidade superior. De outra forma: o feiticeiro (goēs) conjura um espírito do reino da geração para ser seu espírito tutelar, seja a alma de um morto deificada ou espírito da natureza; o teurgo, por outro lado, recebe do Uno-Bem um espírito familiar para o acompanhar no curso de sua encarnação. Esse conceito influenciou profundamente a doutrina moderna do Sagrado Anjo Guardião.

 

Duas tônicas distintas: o feiticeiro conjura o espírito que deseja para fazer dele seu assistente, guardião, tutelar. O teurgo, por outro lado, recebe um espírito guardião através de uma graça celestial, divina. A Quimbanda utiliza a fórmula mágica do feiticeiro, que conjura o espírito de um morto deificado para ser seu Exu tutelar. E assim como na bruxaria é o Diabo, o Espírito da Natureza,[17] que dá acesso ao feiticeiro aos espíritos diversos contidos na Natureza, na Quimbanda é o Chefe Império Maioral que provê acesso ao Exu tutelar do kimbanda.


A teurgia moderna (neoplatônica-rosacruciana-cristã) utiliza a fórmula mágica da teurgia tradicional, esperando receber das potências divinas a superintendência espiritual do Sagrado Anjo Guardião (ou Anjo da Guarda na tradição católica).


Após o apogeu da cristandade ocorreu uma releitura, uma reinterpretação da magia e a goécia tomou os moldes salomônicos que conhecemos hoje,[18] mantendo a doutrina do paredros nos termos da metalinguagem judaico-cristã. Em O Testamento de Salomão é o demônio Ornias, seu diabo pessoal, que intercede por Salomão para ele ter acesso a outros demônios. Após a interpretação cristã o daimon pessoal da teurgia ou o paredros dos papiros gregos tornou-se o diabo pessoal e com ele veio a ideia de pacto diabólico, até as recessões de um grimório medieval conhecido como A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago.


Em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago é possível ver uma transição importante de forma muito clara e que influenciou decisivamente na interpretação moderna do Sagrado Anjo Guardião. O espírito tutelar (daimon, genii, paredros etc.), criatura da natureza e conectada a pluralidade das formas, torna-se o Sagrado Anjo Guardião, uma criatura benfazeja divina conectada diretamente ao Deus judaico-cristão, a unidade distante das formas e aos planos superiores de luz (uma ideia presente no neoplatonismo, mas ligeiramente diferente). O mago clama a Deus e as forças celestes superiores para que lhe confiram a graça de enviar-lhe o Santo Anjo, guia e protetor. Mas é interessante esse ponto: o Sagrado Anjo Guardião mantém os poderes do diabo pessoal. Após o Conhecimento e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião o mago pode conjurar e comandar uma legião de demônios para fazer deles servidores mágicos sob a tutela, poderes e autoridade do Santo Anjo de Deus. Em um texto que publiquei no Daemonium (Vol. II) eu disse:

 

Embora completamente reconfigurado e repaginado em acordo a visão renascentista da magia, o grimório de Abramelin oculta uma genuína prática de goécia, tanto a grega da Antiguidade clássica e tardia quanto a salomônica da Idade Média. Na tradição salomônica o mago exercita sua disciplina e santidade para receber de Deus a graça (ou chave) para comandar os espíritos infernais. Essa ideia permanece oculta no grimório de Abramelin sob o disfarce, se podemos colocar assim, do Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Mas isso não é nada de novo na tradição da magia. Como estamos estudando no Curso de Filosofia Oculta, o mago tem conjurado espíritos assistentes e através deles exercido autoridade sobre outros espíritos desde os primórdios da magia. Na Antiguidade tardia, período dos Papiros Mágicos Gregos, o feiticeiro conjurava o paredros para que, através de seus poderes, pudesse ter controle sobre outras criaturas espirituais. No Testamento de Salomão, o livro que inaugura a tradição salomônica e era contemporâneo dos Papiros Mágicos Gregos, a doutrina do espírito assistente aparece na relação de Salomão com o demônio Ornias, que tanto lhe provê um anel mágico quanto lhe auxilia a conjurar cinquenta e nove demônios. Essa ideia foi posteriormente transmitida ao Hygromanteia e outros grimórios salomônicos latinos na Idade Média. No Lemegeton, por exemplo, o demônio Paimon aparece como um espírito que garante bons familiares ao mago. A ideia do espírito familiar é uma das doutrinas mais antigas da Tradição Oculta da Magia. Do xamanismo paleolítico a magia na Antiguidade, da Idade Média até a tradição moderna, o conhecimento & conversação com uma deidade tutelar sempre foi o exercício inicial de busca e ideal fundamental de todo caminho magístico bem fundamentado.

 

Em outro texto dessa mesma série que publiquei em Daemonium (VOL. II) eu menciono que essa experiência espiritual é

 

considerada o passo fundamental na jornada de um adepto, pois o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião reanima suas forças e conexões espirituais, alimenta a secura da alma, solapa falsas crenças e demole medos infundados a partir da total ignorância do termo espiritualidade. Um adepto com espiritualidade trata-se de um mago com conexões verdadeiras com espíritos, criaturas do reino da geração. Possuir espiritualidade quer dizer possuir assistência espiritual. Quem tem espiritualidade possui uma assistência espiritual de espíritos que constituem sua egrégora pessoal. Todo mago é acompanhado por espíritos tutelares, familiares, assistentes e servidores. Esse é um conhecimento fundamental para compreensão do que vem a ser o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião.

 

O Sagrado Anjo Guardião moderno abordado na Ordem Hermética da Aurora Dourada, na filosofia thelêmica e em muitas escolas pós-modernas é um derivado rosacruciano direto da visão neoplatônica-cristã do A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago.


A Quimbanda recebeu, preservou e desenvolveu a fórmula mágica do conhecimento & conversação com o espírito tutelar. Como tal, trata-se de um sistema de feitiçaria alinhado a diversos cultos de mistérios desde a Antiguidade, passando pelo xamanismo universal, as técnicas de feitiçaria e teurgia dos mundos greco-egípcio e romano, a tradição dos grimórios europeus e o fetichismo e animismo da Cabalá Crioula até o ponto em que nos encontramos na Quimbanda. Entender isso, esas pontes ou conexões, abre um enorme leque para o entendimento teórico e prático das técnicas de feitiçaria promulgadas não só pela Quimbanda, mas por essas tradições arcanas de hoje e do passado.


Nas três vertentes que derivam do tronco tradicional da Quimbanda, Malei, Mussurumim e Nàgô, encontramos essas pontes muito bem estabelecidas.


NOTAS:


[1] Clube de Autores, 2022.

[2] Clube de Autores, 2019.

[3] Arthur Edward Waite, O Livro da Magia Negra e dos Pactos. Via Sestra, 2018. Os colchetes são meus.

[4] Frater Acher, Cyprian of Antioch. Quereia Publishing, 2017. Os colchetes são meus.

[5] BJ Swain, Living Spirits: A Guide to Magic in a World of Spirits. Publicação do autor, 2018. Os colchetes são meus.

[6] Jean Beaujeu APULÉE. Opuscules Philosophiques – Du Dieu de Socrate, Platon et sa Doctrine, Du monde. Texto, trad. e com. de Jean Beaujeu. Paris: Les Belles Lettres, 2002.

[7] Maja D’Aoust, Familiars in Witchcraft. Destiny Books, 2019.

[8] Jonas Sufurino em O Livro de São Cipriano: o Tesouro do feiticeiro; veja Thesaurus Magicus, Vol. II. Humberto Maggi, 2016, Clube de Autores.

[9] Christopher Orapello e Tara-Love Maguire, Besom, Stang & Sword: a Guide to Traditional Witchcraft, the Six-Fold Path & the Hidden Landscape. Weiser Books, 2018.

[10] Antônio Maria Ramalhete, O Breviário de São Cipriano. Eco, 2016.

[11] Stephen Skinner, Techniques of Graeco-Egyptian magic. Golden Hoard Press, 2014.

[12] Humberto Maggi, Scientia Diabolicam. Clube de Autores, 2018.

[13] Danilo Coppini, Quimbanda: O Culto da Chama Vermelha e Preta. Via Sestra, 2019.

[14] Meu primeiro estudo sobre o tema está disponível no Clube de Autores, Corrente 93: A Corrente Solar do Novo Aeon, que o aborda na perspectiva thelêmica.

[15] Referência a Astrum Argentum (A∴A∴), organização espiritual thelêmica fundada por Aleister Crowley em 1907.

[16] Stephen Skinner, Techniques of Graeco-Egyptian Magic. Golden Hoard Press, 2014.

[17] Natureza ou Mundo são sinônimos de Cosmos (Universo).

[18] Veja Humberto Maggi, Goetia: História & Prática. Clube de Autores, 2020.


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