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TRÊS COLUNAS DO INFERNO

  • Foto do escritor: Fernando Liguori
    Fernando Liguori
  • 25 de abr.
  • 12 min de leitura


ARQUITETURA MÁGICA DA QUIMBANDA

 

Sobre a fundação ritual do terreiro, a mecânica mágica do culto, e a integração dos fundamentos de contenção, comando e afinação etérica na tradição da Quimbanda Nàgô.

 

 

Por Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela | @hermakoiergon | @goeteia.com.br

 

 

Não há proteção fora do fundamento. A força do Diabo não desce onde não há terra para plantá-la. – Exu Pantera Negra.


 

Poucas estruturas dentro da Quimbanda autêntica foram tão mal compreendidas quanto a tronqueira. Seu nome é conhecido, sua imagem é vulgarizada, mas sua natureza raramente é compreendida fora dos círculos iniciáticos. Não há elemento mais citado e, paradoxalmente, mais deturpado do que esse fundamento essencial. Popularmente, a tronqueira é descrita como o local onde mora um espírito protetor, uma espécie de sentinela espiritual que vigia a entrada do templo. Essa descrição, oriunda sobretudo de vertentes da Umbanda e de formas sincréticas que pretendem adaptar a Quimbanda às exigências morais da religiosidade cristã, constitui um erro doutrinário de proporções graves. Não existe, na Quimbanda, a figura do espírito de esquerda que complementaria um suposto espírito de direita. Tal dualismo é exógeno ao corpo teológico do culto. Como afirmam os mais velhos: por acaso Exu é aleijado? Exu é Saci Pererê? Não. Exu é inteiro. Pombagira é inteira. Não existem metades espirituais ou manifestações negativas da positividade. A Quimbanda reconhece apenas espíritos completos, atuantes, e hierarquicamente definidos conforme suas funções e atributos — e não segundo categorias morais herdadas da escolástica.

 

Compreender a tronqueira exige descer à raiz da prática. Ela não é um símbolo, nem um ponto energético metafórico. A tronqueira é uma tecnologia mágica encarnada no chão do terreiro. Seu primeiro aspecto é invisível: trata-se de um fundamento enterrado na terra, construído com elementos rituais específicos que sustentam sua função como barreira e filtro mágico. Esse fundamento não é opcional. Ele é, na verdade, o coração defensivo de toda casa de Quimbanda. Sem ele, nenhuma força de Exu permanece ancorada, nenhuma firmeza é mantida, nenhum portal se mantém fechado aos invasores. A partir desse fundamento enterrado, edifica-se então a estrutura visível, que pode ou não conter os símbolos, imagens ou objetos de ligação com os Gangas ali alocados. Mas não se deve confundir a estrutura com sua essência: a verdadeira tronqueira é seu núcleo mágico soterrado, não sua aparência exterior.

 

Este fundamento enterrado possui uma função tripla. Primeiro, ele impede: toda força antagônica à natureza ou propósito do culto é automaticamente barrada ao tentar atravessar seu campo de contenção. Em seguida, ele corta: através dos elementos rituais empregados — ferro, fogo, pólvora, sangue e outros materiais consagrados — a tronqueira atua como lâmina invisível, rompendo laços, magias, obsessões, formas-pensamento e tentativas de ataque espiritual. Por fim, a tronqueira aterra: aquilo que tenta forçar sua passagem é puxado para o chão, drenado, dissolvido, triturado no campo vibratório onde repousa o assentamento. Essas três operações — impedir, cortar, afundar — compõem o eixo funcional da tronqueira tradicional.

 

Nas antigas casas da Quimbanda Nàgô, particularmente naquelas que preservaram a doutrina do Exu Omolu, a estrutura da tronqueira era cuidadosamente elaborada para servir de sustentação bélica à casa. Ao centro do fundamento, firmava-se o Exu Omolu, senhor da decomposição, da doença e da morte, cujas irradiações atuam diretamente sobre os corpos e as formas energéticas. À esquerda, era assentado Exu Cipriano, o patrono da feitiçaria de ataque, responsável por lançar de volta — e com violência ampliada — qualquer carga enviada contra o templo. À direita, firmava-se São Miguel Arcanjo, figura posteriormente absorvida no arquétipo do Chefe Império Maioral, tal como tratado no Daemonium: a Quimbanda & a Nova Síntese da Magia, responsável pela contenção de forças adversas, incluindo Exus em revolta, kiumbas em desvario ou entidades errantes invocadas fora de controle. Acima desses fundamentos centrais, alocavam-se os Exus e Pombagiras tutelares da casa, aqueles que regem o culto no plano da individualidade e da transmissão.

 

Essa estrutura, contudo, não se encerrava nos nomes consagrados. Em muitas casas, especialmente nas que trabalham com operações rituais de purificação, cruzamento ou defesa pesada, a tronqueira incorpora ainda Gangas auxiliares. Exu dos Rios é convocado para o trato com os kiumbas, controlando o fluxo das cargas obsessivas e das correntes mentais dissolventes. Exu do Cheiro é fixado para reger as operações de defumação, limpeza vibratória e expulsão de miasmas astrais. Exus ligados a Ògún são firmados para abertura de caminhos e destruição de inimigos, assumindo a linha de combate mágico direto. A tronqueira, nesse sentido, não é um ponto: é um sistema. Sua lógica é a de um empilhamento de camadas de força, uma superposição de vetores mágicos, que trabalham de forma coordenada para proteger o culto, sustentar a casa e manter o campo ritual em tensão permanente.

 

Toda essa estrutura opera a partir de uma inteligência mágica que se impõe sobre o espaço: não se trata apenas de deter o inimigo, mas de destruí-lo. O fundamento da tronqueira filtra e afunda; o fundamento de Cipriano identifica e ataca; o fundamento de São Miguel sela, aniquila ou converte. Há aqui uma sofisticação estratégica que não pode ser improvisada. Como escrevi no Ganga: a Quimbanda no Renascer da Magia, a arte de firmar uma tronqueira é semelhante à arte da guerra: cada espírito tem uma posição, uma função e uma zona de ação. Sua conjunção não pode ser decidida por sincretismo ou intuição superficial — ela exige conhecimento de hierarquias, de fundamentos de solo, de pontos de carga e de mecanismos de ativação. Cada assentamento precisa estar ritualmente pronto para operar na tensão exigida pelo culto.

 

Para os antigos, essa inteligência de campo tem um nome mais profundo na tradição: Mistério do Chão. Eles nos ensinaram que a terra, na Quimbanda, não é apenas um dos quatro elementos — ela é a plataforma de todos os pactos, o receptáculo de todos os assentamentos, a matriz onde o Diabo finca suas raízes. Nas antigas casas nàgô, firmar uma tronqueira era fixar um pedaço do Inferno na superfície do mundo. Era abrir uma brecha por onde as forças que não pertencem a esse plano possam operar com legalidade, sustentação e proteção. Para os antigos, em um terreiro constituído, nenhum ponto de força, nenhum trabalho de evocação, nenhuma entrega aos mortos tem validade mágica sem que a tronqueira esteja ativa. Toda casa que se pretendia templo deveria, antes, ser fortaleza. Sem trincheira, não há trono.

 

A Quimbanda não fala em espíritos protetores porque não opera com infantilizações espirituais. Na Quimbanda, os Gangas firmados em uma tronqueira não estão ali para consolar ou orientar: estão para impedir, destruir, consumir. Proteção, neste culto, é guerra. Protege-se vencendo. Protege-se aterrando. Protege-se fazendo sangrar o inimigo. A espiritualidade aqui não é flor, é lâmina. A tronqueira é seu corte inaugural.

 

Mas Quimbanda moderna, na medida em que se consolida como culto autônomo e soberano, vem gradualmente cristalizando um corpo teológico próprio, coeso e funcional. Esse processo de sistematização não se dá por meio de sínodos, dogmas ou reformas eclesiásticas — ele ocorre na prática ritual, na sedimentação dos fundamentos, e sobretudo na depuração do saber transmitido oralmente entre os iniciados mais antigos e aqueles que hoje sustentam o peso das casas. A prática constante e o diálogo entre tradições firmadas produzem, com o tempo, uma arquitetura doutrinária. É nesse espírito que se compreende a transição entre a estrutura tradicional das casas nàgô e o arranjo mais comum encontrado hoje nos terreiros que praticam a Quimbanda em sua forma pura, desvinculada de sincretismos, de ranços umbandistas e de pretensões ecumênicas.

 

Hoje, nos terreiros de Quimbanda plenamente constituídos, o ponto central do culto não é mais, estruturalmente, a tronqueira — mas sim a Cafúa. Este espaço sagrado, oculto e vedado ao público, constitui a verdadeira morada dos Exus-chefes da casa e de todos os demais espíritos da Banda firmados para operações específicas. A Cafúa é o coração mágico do templo: é ali que reside a potência viva dos pactos, é ali que repousam os mistérios mais profundos do culto, é ali que se concentra a densidade vibratória das entidades que regem a casa. Diferentemente do altar, que é local de irradiação simbólica e de ligação entre o visível e o invisível, a Cafúa é território de condensação. Costuma-se alocar ali todos os Gangas que compõem a Banda da casa: Exus e Pombagiras de cruzeiro, de caminho, de destruição, de cura, de demanda, de ataque, de feitiço, de paixão, de libertação. Cada um com seu assentamento, sua firmeza, seu lugar e sua chave. Cada um com sua função dentro da engrenagem espiritual que move a casa.

 

A tronqueira, por sua vez, continua a ocupar seu lugar sagrado no portão do terreiro. Seu fundamento de chão permanece intacto: não se altera o que foi firmado pela tradição e validado pelas guerras espirituais travadas ao longo de décadas. Mas sua função atual se concentra em um campo mais específico de contenção e vigilância externa. Nela, costumam ser firmados hoje três ou quatro pilares fundamentais: o Exu-Ògún da casa, espírito belicoso e vigilante que atua como guardião e executor; o Exu Cipriano, cuja função permanece de ataque mágico e reversão de trabalhos; o Ganga regente da tronqueira, muitas vezes escolhido entre os espíritos que possuem afinidade com o portão, com o trânsito de forças e com a vigilância de fronteira espiritual; e, a depender da chefia e da tradição da casa, o fundamento de Exu Santo Antônio, cujo papel é de atrair, seduzir, reverter e prender entidades que se aproximam com intenções ocultas ou disfarçadas.

 

Importante sublinhar que a antiga associação entre São Miguel Arcanjo e a função defensiva na Quimbanda, muito comum entre as décadas de 1950 e 1970, foi progressivamente sendo absorvida por um arquétipo mais específico e funcional ao corpo doutrinário do culto: o do Chefe Império Maioral. Como demonstrei detidamente no Daemonium: a Quimbanda & a Nova Síntese da Magia, a figura de São Miguel — arquetípica, militar, celestial e hierárquica — serviu como molde simbólico inicial para a compreensão popular da função de contenção, julgamento e combate às forças antagônicas. No entanto, à medida que a Quimbanda se afirmou como sistema independente, essa representação cristã foi dissolvida na imagem muito mais adequada e iniciática do Chefe Império Maioral, que cumpre o mesmo papel com maior fidelidade à cosmologia infernal do culto. Por esse motivo, não se costuma mais firmar o fundamento de São Miguel na tronqueira moderna, salvo em casos de herança ritual específica ou fidelidade a formas mais arcaicas da prática.

 

A substituição de São Miguel pelo Chefe Império Maioral não é um simples deslocamento iconográfico. Ela representa a maturidade teológica da Quimbanda, que reconhece seus próprios fundamentos infernais e os nomeia segundo suas chaves legítimas. Enquanto São Miguel era o espelho celeste da ordem, o Chefe Maioral é sua contraparte infernal, não em oposição, mas em completude. A estrutura moderna da tronqueira, portanto, é o reflexo de um culto que, tendo vencido sua infância sincrética, se reconhece agora como senhor de sua própria linguagem, de sua própria força e de sua própria lei.

 

Outro ponto importante sobre São Miguel Arcanjo, seu propósito mágico de patrono da contenção espiritual, da justiça bélica e da guarda celeste, foi absorvido, ressignificado e redistribuído em outro arquétipo que emergiu com nitidez no corpo teológico do culto: o Exu-Ògún, que recebeu as atribuições do guerreiro executor, do espírito armado, do mensageiro armado da lei do Diabo, que atua com ferro, com fogo e com mandinga. Exu-Ògún, em muitas casas de Quimbanda, cumpre hoje com precisão funcional o mesmo papel que, em décadas passadas, era atribuído a São Miguel: o de defensor armado da casa, destruidor de kiumbas, exterminador de espíritos obsessivos e estraçalhador de demandas astrais.

 

Mas ao contrário do anjo hebraico-cristão, que representa uma ordem transcendente imposta de fora sobre o caos, o Exu-Ògún emerge de dentro da terra, da fornalha, da bigorna, da guerra e da rua. Sua justiça é imanente, não transcendente; sua força é encarnada, não celestial. Ele não expulsa com luz, mas com lâmina. Sua espada é feita de ferro encantado, não de fogo simbólico. E sua atuação se dá em comunhão direta com os demais Gangas do culto, sem o distanciamento hierárquico da milícia angelical, quer dizer, neste caso, demoníaca. Assim, a substituição de São Miguel por Exu-Ògún não é apenas iconográfica, mas ontológica: representa a passagem de uma lógica celeste para uma lógica infernal, de uma teologia baseada em abstrações teocêntricas para uma magia baseada na experiência encarnada dos corpos, da terra e da força. É a Quimbanda superando seus resíduos coloniais e assumindo a força de seus próprios deuses.

 

Outra tecnologia mágica herdada das casas antigas de nàgô, e que hoje se apresenta de forma cada vez mais nítida nos terreiros que avançaram em sofisticação teológica, é o Cruzeiro das Almas. Se a tronqueira representa o limiar defensivo, o ponto de resistência e de contenção das forças antagônicas ao culto, o Cruzeiro é, por excelência, o ponto de integração espiritual, o lugar onde se regula o psiquismo do adepto e se estabelece o trânsito lícito com as potências do mundo invisível. A Quimbanda, como demonstrei no Ganga: a Quimbanda no Renascer da Magia, e desenvolvi extensivamente no Daemonium: a Quimbanda & a Nova Síntese da Magia, não é um culto da possessão desordenada, nem somente da catarse emocional. É um sistema de ciência mágica infernal, e como tal exige regulação energética. O Cruzeiro cumpre essa função com precisão simbólica e vibratória.

 

O Cruzeiro das Almas é o lugar de acesso ritual aos três éteres, ou seja, às três regiões vibratórias que se distribuem entre o plano sublunar e o limiar das esferas planetárias. Esse é o Reino do Chefe Império Maioral, o Diabo. Nessa cosmologia infernal, noturna e lunar, as forças espirituais não se distribuem verticalmente como em um sistema hierárquico celeste, mas se espraiam horizontalmente, conforme suas densidades, suas funções e seus pactos. No Cruzeiro, alocam-se os Gangas dos três éteres: aqueles que atuam no plano dos mortos conscientes e organizados; aqueles que habitam o campo dos obsessores e deformados astrais; e aqueles que cruzam os umbrais entre o visível e o invisível, ora atuando como diabos, ora como agentes da decomposição psíquica ou da libertação da alma. É no Cruzeiro que se encontra a interface entre os três reinos: Céu, Terra e Inferno. E é também no Cruzeiro que o adepto da Quimbanda pode organizar o seu campo psíquico, fortalecer sua couraça espiritual e regular sua percepção das presenças e sinais do culto. Por isso, enquanto a tronqueira cumpre o papel de filtro e triturador das forças invasoras, o Cruzeiro é o ponto de afinação vibratória, de equilíbrio, de reintegração com o mundo oculto.

 

Ao contrário do que se repete em círculos exteriores, o Cruzeiro das Almas não é apenas um ponto de cruzamento espiritual nem um altar votivo às almas sofredoras. Isso pertence à linguagem da Umbanda, e não encontra respaldo na Quimbanda. O Cruzeiro é uma antena, um portal mágico de ativação, uma arquitetura etérica plantada no chão do templo, cuja função é atrair, organizar e redistribuir as forças sublunares que atravessam o campo espiritual da casa. Em Wanga: o Segredo do Diabo, delineei com precisão o papel das forças etéricas na manipulação do psiquismo e do magnetismo pessoal: os três éteres (luminoso, intermediário e obscuro) correspondem às três grandes densidades com as quais se trabalha na Quimbanda, e cada uma delas possui seus espíritos, seus diabos, seus Exus e suas Pombagiras. O Cruzeiro, neste contexto, é a plataforma de acesso e gestão dessas forças. Ele não é um lugar das almas no sentido popular — ele é o órgão mágico da casa para lidar com as forças do Submundo.

 

A Quimbanda é um culto ctônico.

 

Toda casa que se pretende templo — e não apenas lugar de passagem de entidades — precisa de seu Cruzeiro. E não se trata de uma cruz de madeira erguida com velas e flores, mas de um fundamento específico, ativado, consagrado e equilibrado segundo as necessidades do culto. Sua ativação não se dá por prece ou por canto, mas por pactuação com as forças etéricas, por alocação dos Gangas apropriados, e por abrimento ritual com instrumentos, pontos e sangrias específicas. O Cruzeiro é o sistema nervoso da casa, por onde circulam as mensagens espirituais, as sensações sutis, os comandos silenciosos. Sem ele, o terreiro perde sua inteligência vibratória, e o adepto perde sua centralidade psíquica. A paranormalidade torna-se instável, os sinais se confundem, e a percepção espiritual se fragmenta.

 

Por isso, na estrutura dos terreiros modernos de Quimbanda, três polos se fazem indispensáveis: a tronqueira, que barra e destrói; a Cafúa, que concentra e comanda; e o Cruzeiro, que regula e afina. Esses três pontos — limiar, núcleo e antena — formam o triângulo operativo da Quimbanda, tal como praticada pelas casas que herdaram o legado da Cova de Cipriano e que se firmaram com fundamentos mágicos próprios. Quando bem equilibrados, esses três pontos transformam um terreiro em um organismo mágico completo: um lugar onde o Diabo planta sua casa, governa suas forças e fala com aqueles que têm ouvidos para escutá-lo.

 

A Quimbanda não é uma religião no sentido moderno do termo. Ela não opera com fé, mas com fundamento; não exige crença, mas pactuação; não propõe salvação, mas poder. A tradição não se ergue sobre discursos importados, nem sobre categorias moralistas herdadas de outras matrizes. A Quimbanda é um sistema mágico completo, com uma ontologia própria, uma estrutura operacional rigorosa, e uma teologia infernal enraizada nos pactos firmados com os Espíritos — os Gangas, os Diabos, os Senhores das Encruzilhadas e das Almas, que não são guias, mas potências autônomas.

 

Neste contexto, a tríade formada pela Tronqueira, pela Cafúa e pelo Cruzeiro das Almas constitui a expressão mais acabada da engenharia espiritual do terreiro. Trata-se de uma arquitetura que não é simbólica, mas funcional. A tronqueira impede, corta e afunda — é a linha de contenção contra qualquer força invasora. A Cafúa concentra, dirige e comanda — é o centro soberano da autoridade dos Exus-chefes e dos pactos vivos da casa. O Cruzeiro das Almas, por sua vez, organiza e regula — é a antena espiritual por onde se alinham os campos vibratórios dos três éteres, permitindo ao adepto um trânsito ordenado com os mundos do além. Tal como ensina Táta Kilumbu no texto Falando de Quimbanda Nàgô, não há terreiro que se sustente sem a fundação viva desses três pilares. Eles não são acessórios: são o próprio templo do Diabo em sua expressão telúrica, astral e etérica.





 
 
 

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