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COVA DE SÃO CIPRIANO

A cidade de Salamanca está na antiga rota da seda da tradição mágica europeia, na Península Ibérica, uma região que no fim da Idade Média e início da Renascença ocorreu uma grande miscigenação cultural entre mulçumanos, cristãos e judeus. A região ficou famosa tanto por produzir manuscritos mágicos quanto por sediar inúmeras confrarias de estudantes de magia. O nome deste projeto, a escola iniciática Cova de São Cipriano, é inspirado na famosa Cueva de Salamanca ou Cueva de San Cebrian, quer dizer, a Cova de São Cipriano, o Covil do Diabo.
 

A Cueva de San Cebrian está localizada sob a Igreja de San Cebrian, construída em 1126, um local famoso na Europa onde se diz que o Diabo ensinava necromancia e as artes ocultas aos estudantes da Universidade de Salamanca, fechada no início do Séc. XVI pela Rainha Isabela, a Católica. A Igreja foi construída sobre um antigo cemitério celta e ficou conhecida como um campo de força ou zona de poder mágico que recebia alunos insatisfeitos com o cristianismo e que buscavam por sabedoria oculta. Sobre esse local, se diz:

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Cuenta la leyenda que en este espácio, Satanás, bajo la apariencia de sacristán, impartía sus doctrinas de ciências ocultas, adivinación, astrologia y magia a siete alunos durante siete años, tras los cuales, uno de ellos debía quedar de por vida a sua servicio. Enrique de Aragón (1384-1434), Marqués de Villena, fue alumno de la Cueva de Salamanca y engañó al diablo-sacristán para no quedar a sua servicio a costa de perder su sombra.

A Cova de São Cipriano é uma escola iniciática para ocultistas que desejam acesso a fonte viva da goécia como uma corrente mágica por meio da fórmula do espírito tutelar. A escola nasce como uma rama da família tradicional de Quimbanda (nàgômussurumin e malê), a Cova de Cipriano Feiticeiro, chefiada por Exu Pantera Negra e Pombagira Dama da Noitem ao estilo da Cabalá Francesa da Quimbanda Mussurumin.

 

grigori, i.e. espírito guardião da egrégora da Escola Cova de São Cipriano, seu espírito patrono, portanto, é Exu Cipriano Feiticeiro. Como mencionei no texto Uma Vida de Goécia, na Quimbanda o mítico São Cipriano é um Exu:

Na cultura afro-brasileira, o primeiro impacto de São Cipriano deu-se profundamente na Macumba carioca do Sudeste e na Jurema do Nordeste no fim do Séc. XIX e início do Séc. XX. No segundo volume do Daemonium: a Quimbanda no Renascer da Magia, eu tratei da sua influência na Quimbanda desde a sua genitora, a Macumba. Na década de 1920 São Cipriano aparece como Chefe da Linha Africana; posteriormente, nas décadas de 1930-50, a Linha Africana passa a ser chamada de Linha das Almas e São Cipriano, antes seu líder, se transforma ou é substituído por Exu Omolu. O Pai Cipriano, hora preto-velho na Umbanda, hora Exu na Quimbanda, é considerado efetivamente o São Cipriano.

Na Quimbanda, após a síntese promulgada por Fontenelle, gradativamente São Cipriano começa a aparecer como Exu Cipriano, fundamentado dentro do culto como mestre de bruxaria, utilizado para ataques mágicos e guerras espirituais. Fora da Quimbanda como sistema, mas dentro da goécia como tradição viva de magia e feitiçaria, São Cipriano é o Herói icônico do culto. Como venho demonstrando desde o primeiro volume do Daemonium, São Cipriano representa a busca fundamental de todo aspirante a Arte da magia: o conhecimento e a conversação com um espírito familiar. O mito de São Cipriano é a parabola que representa a conexão que todo magista se esforça em estabelecer com um espírito tutelar e, a partir disso, operar os milagres da magia e coroar sua carreira mágica com a deificação de sua alma.

O sistema mágico da Escola Cova de São Cipriano trata-se de um culto a Cipriano Feiticeiro - para os homens - na forma de uma inteligência terrestre corporificada; para as mulheres, o culto é a Bruxa de Évora que, assim como São Cipriano, na Quimbanda tornou-se uma Pombagira. No texto Bruxa de Évora não é Kiumba, explico sobre o processo de sua deificação como Pombagira na Quimbanda. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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SÃO CIPRIANO & A VIDA DE GOÉCIA
 

Eu sou Cipriano, o grande mago, que era o amigo do dragão do abismo. Ele me chamou de seu filho e eu o chamei de pai. Ele colocou a sua coroa e o seu diadema sobre a minha cabeça. Eu bebi o leite em seu peito direito e Ele colocou o meu lugar à sua direita. Ele submeteu a mim todo o seu poder. Eu ascendi até as Plêiades, e elas deslizaram debaixo de mim como um navio. Eu aprendi o sussurro das estrelas; eu tomei posse dos tesouros dos ventos. Eu dominei toda astronomia. (São Cipriano, citado em Ancient Christian Magic, Meyers e Smith. Citação em Thesaurus Magicus, Vol. II. Humberto Maggi, 2016, Clube de Autores.)

O herói icônico da goécia como tradição viva é São Cipriano. Seu mito representa não só a busca universal, mas a própria coroação da carreira mágica: a glorificação ou deificação da alma. No primeiro volume do Daemonium é feita uma introdução concisa acerca do mito de São Cipriano e as preocupações do mago ou feiticeiro da Antiguidade com a deificação da alma, na intenção de demonstrar a associação direta do mito com a fórmula mágica universal do espírito tutelar: como um herói deificado, Cipriano representa a conexão direta que se busca estabelecer com o ajudante mágico, o espírito tutelar, chamado de paredros nos Papiros Mágicos Gregos, de daimon pessoal pelos neoplatônicos, e de Sagrado Anjo Guardião em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago. A coroação dessa jornada, possível inferir através de figuras lendárias como Salomão, Fausto e próprio Cipriano, é a aquisição de poderes mágicos e a autoridade sobre os espíritos ou demônios, como queira chamar, da geração. Essa autoridade sobre os demônios, por outro lado, é transferida do espírito tutelar diretamente ao mago.

 

Este é o cerne da goécia que gradualmente começa a se estabelecer a partir dos primeiros séculos da era cristã, configurada no mito de São Cipriano. O poder que o feiticeiro possui sobre os demônios, de fato, não é dele, mas de uma força para além dele, uma divindade ctônica ou o próprio espírito tutelar, que empresta ou transfere ao feiticeiro suas virtudes. No mito de Cipriano a fórmula mágica se desenvolve nas entrelinhas:

 

  1. Estudo e aquisição de conhecimento como preparo para compreender as lições do mestre. Cipriano adquiriu conhecimentos arcanos e iniciáticos por meio de viagens e estudos de diversos sistemas de magia na época.

  2. O encontro com o mestre que é capaz de ensinar os segredos da magia. No mito o mestre de Cipriano é o próprio Diabo, que lhe aparecera durante o curso de um ritual, conferindo-lhe poderes para comandar e ter autoridade sobre os demônios.

  3. De posse do segredo da magia, o feiticeiro começa a oferecer seus serviços mágicos. Cipriano abre uma oficina mágica para oferecer seus serviços após receber autoridade magística pelo próprio Diabo.

  4. Com experiência o mago começa a transmitir para novos candidatos o que aprendeu com seu mestre, assumindo seu lugar.

 

Estes são os quatro passos fundamentais da fórmula mágica do espírito tutelar e, como demonstrei por diversas vezes, presente fielmente na Quimbanda que, portanto, é alimentada por essa goécia viva de conexão com as inteligências terrestres. Toda Quimbanda genuína é cipriânica! Essa é a fórmula mágica de trabalho do programa Uma Vida de Goécia da Cova de São Cipriano.

Ele prometeu fazer de mim um príncipe, após a minha morte, e que eu teria poder e seu apoio enquanto vivesse. Para tanto, ele me dotou de grande autoridade e me deu o comando de uma falange infernal. "Sê corajoso", disse-me ele quando saí, "grande Cipriano!" Ele se levantou e me acompanhou por um momento, causando a admiração de todos ali presentes. Depois disso, todos os dignitários de sua coorte se submeteram ao meu serviço, sabendo bem do grande favor que eu gozava com ele. (A Confissão de São Cipriano. Em Humberto Maggi. Thesaurus Magicus, Vol. II. Clube de Autores, 2016, pp. 64.)


 

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ESTUDOS DA COVA DE SÃO CIPRIANO

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